RJESPM 16
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 19 mesmas, tentaram seguir “o espírito” do desacordo. Soma-se a tudo isso a péssima reda- ção e a péssima formulação de alguns itens do desacordo, como se vê neste bizarro e inacreditável caso: “Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglu- tinadamente: girassol , madressilva , mandachuva , pontapé , paraquedas , paraquedista etc.”. Oresultado de “cer- tos compostos” + “em certa medida” + “etc.” num texto que se pretende regulatório é ridículo. Delicie-se agora com estoutra pas- sagem: “Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adje- tivas, pronominais, adverbiais, pre- positivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algu- mas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha , cor-de-rosa , mais-que- -perfeito , pé-de-meia , ao deus-dará , à queima-roupa)”. Alguém pode explicar o que signi- fica “já consagradas pelo uso”? Por que dar tratamentos distintos a casos como o de “água-de-colônia” (que no texto oficial dodesacordo aparece com acento agudo, à portuguesa), “água de cheiro” e “água de rosas” ou “cor-de- rosa” e “cor de abóbora”? E como explicar a quem quer que seja que “pré-qualificar” e “pré-qua- lificação” se escrevam com hífen e acento no prefixo e “prequestionar” e “prequestionamento” se escrevam semhífen e sem acento? Que critério empregou a ABL para assim grafar essas palavras no Vocabulário Orto- gráfico da Língua Portuguesa (VOLP)? Texto lamentável E por que o desacordo eliminou o acento diferencial da forma verbal tônica “para”, que distinguia essa fle- xão da preposição átona “para”? Que destino dar num texto jornalístico a casos como “Nada para os bombeiros” ou “Trânsito pesado para a Barra”? Os doutos do lamentável texto do desa- cordo dizem que a possível ambigui- dade é desfeita pelo contexto. Esque- cem-se de que no jornalismo existem os títulos, as manchetes... O fato é que tudo isso torna simples- mente inensinável o desacordo e, con- sequentemente, boa parte da ortogra- fia portuguesa. Quem estudar todo o texto oficial do desacordo e resolver levá-lo ao pé da letra escreverá, por exemplo, “subregião”, “subreitor” e “subremunerado” (sem hífen). Nem na gloriosa “Nota Explicativa”, comos seus longos 15 itens, há alguma refe- rência ao prefixo “sub-”, que, obvia- mente, nãopode enquadrar-sena regra geral relativa ao hífen, segundo a qual há hífen quando o prefixo ou falso pre- fixo se junta a palavra iniciada por “h” ou quando a letra final do prefixo for igual à letra inicial da palavra à qual se agrega o hífen. É óbvio que o prefixo “sub-” deveria ter sido objeto de observações específicas (em relação ao seu emprego diante de palavras inicia- das por “r”, por exemplo). É bom que se diga que o VOLP registra os exemplos do parágrafo anterior como manda o bom senso, ou seja, com hífen (“sub-região”, “sub-reitor” e “sub-remunerado”). As críticas que sempre fiz ao desa- cordo em si e a todo o processo que culminou coma sua entrada emvigor em2009 chamarama atenção de inte- grantes da Comissão de Educação do Senado, que me convidou para um depoimento público. Estive em Bra- sília e apontei aos senadores todas as contradições do desastrado texto do desacordo e tambémfalei dos imensos prejuízos financeiros causados pela sua improvisada entrada emvigor. Podem
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