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22 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2016 Titã das novas gerações A Vice vive na fronteira entre entretenimento e seriedade. O império global aposta as fichas no modelo que alia irreverência e noticiário para cativar os jovens por chris ip na primeira sexta-feira demaio de 2015, uma fila de gente demídia e publi- cidade serpenteava pelaWest 22nd Street emNova York. A turba estava ali para ouvir Shane Smith, o barbudão de 45 anos que ajudou a fundar a empresa de mídia Vice. Um dos executivos mais espoletas do mundo das comunicações tinha uma novidade a contar. A ocasião era o Digital Content NewFronts, umevento corporativo no qual empresas de mídia apresentam a anunciantes novidades em sua programa- ção digital. Embora houvesse executivo de camisa social e paletó, Smith ves- tia uma camiseta preta com parte de uma tatuagem escapando pela manga. Numa apresentação desbocada e brincalhona ao lado do cineasta Spike Jonze – que já foi indicado ao Oscar e hoje é diretor de criação na Vice –, Smith anunciou uma onda de novidades na bandeira “lifestyle” estreladas por um panteão de gente cultuada pelos millennials . Marc Maron, o sardô- nico humorista que tem um popular podcast de papos com famosos, vai ter um programa de entrevistas; Ellen Page, a atriz de A Origem e Juno que saiu do armário no ano passado, vai apresentar um programa de turismo LGBT, o Gaycation . Mas, diferentemente do grosso da grade jornalística e cultural da Vice, que está online, a programação deve ir ao ar em seu novo canal a cabo na emissora A&E Networks, que pagou a bolada de US$ 250 milhões por 10% da Vice em 2014. No maior evento de publicidade digital do mundo da mídia, a grande novidade da empresa parecia quase um anacronismo: a intrépida trupe do vídeo online estava entrando no cabo. E não é só a programação cultural que migra para a TV. A Vice está apos- tando cada vez mais no “hard news”. Um acordo com a HBO feito em 2015 ampliou seu festejado acervo de documentários e a fez pleitear um telejor- nal diário de 30 minutos durante a semana. Para aVice, o negócio traz dinheiro e o prestígio de deixar suamarca num meio tradicional. Já a A&E e a HBO ganhammaior visibilidade entre seu cobiçado público jovem. Sem con- tar que o momento não era dos pio- res para uma investida no noticiá- rio noturno na TV americana. Brian Williams, o âncora da NBC que batia forte e inspirava respeito, estava suspenso do cargo; a redação da Al Jazeera America, uma algazarra; e, a cada semana, a CNN acumulava mais gafes no ar. Esse revertério coincide com a ascensão da Vice. Smith há muito diz querer que sua organização seja “a próximaMTV, ESPNe CNN– jun- tas”. Em 2015, o desejo começou a virar realidade. A empresa já não é a iconoclasta emergente do digital. É, antes, um império global lubrifi- cado por milhões em investimentos e receita publicitária que, aliados à atitude irreverente, fazem dela um raio de luz em meio aos decadentes templos do velho jornalismo.

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