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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 45 suas histórias de farra adolescente e seus valores liberais em sintonia com sua Califórnia natal. Mas, na vez em que me levou à cidade sagrada de Mashhad, berço de sua família paterna, no extremo leste do Irã, fiquei espantado com sua desenvol- tura nos meios mais devotos. Capital espiritual do Irã, Mashhad abriga o mausoléu de Reza, santo icônico do xiismo. É daí que vem o sobrenome Rezaian, umdos mais tradicionais na cidade. Numde seus textos mais anti- gos na internet, Jason faz um diver- tido relato de sua chegada a Mash- had, em 2001, acompanhado do pai. Era sua primeira visita ao Irã, onde ele só fincaria residência sete anos depois. Essa dupla condição de ira- niano e americano, porém, também era o ponto fraco que acabou trans- formando Jason em refém das lutas fratricidas do regime. Quando desembarquei em Teerã, Jason ainda não havia sido contra- tado pelo Washington Post . Ele vivia de frilas para revistas dos EstadosUni- dos e ganhava trocados extras como agente de viagem especializado em trazer turistas americanos. Quase só andava de ônibus emorava numapar- tamento com aluguel irrisório com- parado ao padrão médio dos demais correspondentes. Ele já namorava a simpática Yeganeh, ou Yegi, que tam- bémse entusiasmava com jornalismo. Dança das cadeiras Com seu jeito bonachão e agregador, Jasonera oepicentroda vida social dos correspondentes – raça que, em qual- quer parte do mundo, tende a andar entre semelhantes. Ele gostava não só de receber, sempre com fartura de comes e bebes, como também de aju- dar recém-chegados. Foi Jason quem arranjouminhaprimeiraassistente-tra- dutora e me apresentou a algumas das melhores fontes. Compartilhávamos a mesma diarista. Jason me conseguiu inúmeras passagens de avião a preço camarada comseus contatos emagên- cias de viagem. Quando minha namo- rada, paulistana, vinhamevisitar, Jason e Yegi a recebiam com carinho e gene- rosidade. Várias vezes, ocasal nos levou consigo à casa de familiares e amigos. Na primavera de 2012, uma pequena dança das cadeiras agitou a nossa turma. O então correspondente do Washington Post , Thomas Erdbrink, umholandês brilhante e bem-humo- rado, foi contratado pelo New York Times , que saía de uma proibição de três anos sempoder reportar do Irã. E Jason assumiu a antiga vaga de Tho- mas, tornando-se o novo bureau chief do Post . Amudança deixou Jason revigorado. Elenão sópassavaa receberumconfor- tável salário como tambémascendia às grandes ligas do jornalismo internacio- nal. “Obama lêminhasmatérias”, diver- tia-se.Meses depois, Jason eYegimar- O repórter Jason Rezaian e sua família em janeiro de 2016, dias depois de ser libertado pelo governo iraniano LATINSTOCK/KAI PFAFFENBACH

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