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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 49 Quando sentiramque poderiamarran- car concessão dos Estados Unidos (no caso, libertação de iranianos detidos em prisões americanas), entregaram Jason, que comemorará em liberdade seu 40º aniversário. O caso era juridi- camente tão inconsistente que a Jus- tiça nem sequer se deu ao trabalho de dizer como ficaram as acusações depois que ele foi solto. O ambiente para amídia estrangeira no Irã pode ser pavoroso, mas pou- cas vezes envolve violência física, ao contrário de outras regiões de risco. O perigomais óbvio está nas zonas de guerra, cada qual com desafios espe- cíficos, cujas variações podem ser observadas até nummesmo conflito. Naminha segunda vez na Líbia, o fotó- grafo Apu Gomes e eu vivemos uma clássica guerra de front, com avanço e recuo de posições. Passávamos o tempo vendo corpos despedaçados. Mas na retaguarda, emBenghazi, nos sentíamos em relativa segurança. Na viagem seguinte ao país, para cobrir a queda de Trípoli, o perigo se tor- nou onipresente devido aos franco- -atiradores camuflados pelo regime em toda parte. Essa cobertura tam- bém teve as condições de trabalho mais adversas. Ficamos cinco dias sem poder tomar banho e comendo biscoitos e latas de atum. Na Síria, não vi um cadáver sequer, mas passei omaiormedo daminha carreira. Dor- mia e acordava ouvindo explosões que chegavam a estremecer meu quarto de hotel. A pior tensão foi quando o motorista se perdeu, ao anoitecer, nas ruas sem iluminação da favela de Daraya, linha de frente dos confron- tos entre duas das forças combatentes mais sanguinárias domundo: o Exér- cito de Bashar Al-Assad e os jihadis- tas da Frente Al-Nusra. “Lugar normal” Em Bagdá, onde estive quatro vezes, reina um ambiente de quase normali- dade, comcomércio fervilhando, gente na rua e boa comida, mas o risco de carros-bomba é constante. Em todos esses lugares, as partes invariavel- mente acusam o jornalista de simpa- tizar com o inimigo. Além disso, boa parte do trabalho consiste em resol- ver perrengues de internet e conseguir lugar para passar a noite. A burocra- cia é desesperadora –menos na Líbia, onde não havia Estado. Quando fui transferido para Cara- cas, em setembro de 2014, amigos e familiares se alegrarampor eu ir para o Caribe “depois da barra-pesada do Oriente Médio” e por finalmente viver num“lugar normal”. Semnunca antes ter pisado na Venezuela, quase acreditei. Me deparei, porém, com um país desfigurado pelo desabas- tecimento e por níveis de violên- cia surreais até para padrões brasi- leiros. A Venezuela é um inferno de filas, gente desesperada, linchamen- tos, sequestros e assassinatos. Vivo com a sensação de estar prestes a tomar um tiro. E rezo para não ado- ecer, pois não há remédios nem insu- mos médicos. Mas, apesar da arbi- trariedade do chavismo, nunca me senti ameaçado na minha condição de correspondente estrangeiro nem tive receio de publicar reportagens de teor duríssimo contra o governo. ■ samy adghirni é correspondente da Folha de S.Paulo na Venezuela. Já cobriu países como Irã, Líbia e Síria. A Venezuela é um inferno de filas, gente desesperada, linchamentos, sequestros e assassinatos, mas não me sinto ameaçado como correspondente
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