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54 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2016 Últimas palavras Como o editor que publicou os ensaios de Oliver Sacks no Times lidou com o legado do médico e escritor à beira da morte por laura dattaro emfevereirode 2015 , umartigo com o singelo título “Minha Própria Vida” foi publicado nas páginas de opinião do New York Times . De autoria do neurologista e escritor Oliver Sacks, aquelas poucas páginas contavam o que Sacks havia aprendido com a proximidade da morte, por causa de um câncer no fígado. Ele tinha alguns meses de vida e prometera passá-los viajando, escrevendo e buscando “novos patamares de compreensão e discernimento”. E ele escreveu. Durante os seis meses seguintes, Sacks publicou três outros ensaios no Times , registrando as mudanças em seu corpo, contando histórias aomesmo tempo divertidas e sérias, recordando a vida enquanto caminhava para o fim. “Minha impres- são é de que, quando ele soube que estavamorrendo, decidiu encarar sua situação damesma forma que enfren- taria qualquer outro problema de saúde”, conta Peter Catapano, o edi- tor do Times que publicou os artigos de Sacks. “Comcerteza era o olhar de um cientista e de um médico obser- vando o avanço da doença e seus efei- tos.Mas tambémhavia detalhesmuito pessoais.” A relação profissional de Catapano comSacks começou em2008, quando o jornalista pediu ao autor que escre- vesse um texto para uma série sobre enxaqueca.Muitas outras colunas vie- ramcomo passar do tempo, incluindo uma publicada em2013 sobre o enve- lhecimento, enquantoCatapano traba- lhava de maneira independente com Bill Hayes, o companheiro de Sacks. Após o diagnóstico, um assistente de Sacks e Hayes procurou Catapano para saber se o Times poderia publi- car suas reflexões. “Fiquei muito honrado com essa oportunidade”, afirma Catapano. “Mesmo que tenha sido muito difí- cil, especialmente no fim, foi umpra- zer fazer o trabalho.” Os ensaios de Sacks tinham um poder incrível, por mais que ao mesmo tempo ele estivesse per- dendo a própria força. O médico se tornou mais conhecido do público quando escreveu, em 1973, o best- seller Tempo de Despertar (Compa- nhia das Letras, 1997) – cujo título original em inglês é Awakenings –, em que mostrava seu esforço para reabilitar pacientes catatônicos. O livro foi adaptado para um filme pre- miado, comRobinWilliams no papel de Sacks. Por meio dessa obra, Sacks se tornou conhecido e amado por sua habilidade para escrever sobre a medicina com clareza científica e olhar humanista. Os pacientes em suas histórias são fascinantes, intrigantes, divertidos e frustrantes, mas antes e acima de tudo são seres humanos, que devem ser tratados
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