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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 55 com respeito. “[Sua abordagem] era muito peculiar”, lembra Catapano. “Ele tinha muito domínio e conse- guiu usar todas as suas habilidades na própria história.” Astúcia e talento Emvez de se afastar do trabalho, Sacks usou o diagnóstico da doença termi- nal como umcatalisador, voltando seu olhar afiadopara aprópria vida [a auto- biografia do escritor, Sempre emMovi- mento , cujo título original em inglês é On The Move , foi lançada em abril de 2015 pela Companhia das Letras]. Depois que a notícia da doença saiu no Times , passaram-se quatro meses sem nenhuma publicação de Sacks. Então três artigos saíram em sequ- ência; em junho, foi “Mishearings” (“Mal-entendidos”), sobre os enganos do cérebro ao distorcer o que foi dito por outra pessoa; em julho, “My Perio- dic Table” (“Minha tabela periódica”), que comparava os elementos quími- cos aos anos da vida de uma pessoa; e em agosto, duas semanas antes de suamorte, “Sabbath” (“Sabá”), sobre a tradição de guardar o sétimo dia para descanso e reflexão. Para Catapano, como editor, foi uma experiência diferente de qual- quer outra que tenha vivido numa década no Times . “Acho que foi uma sensação de estar envolvido em algo muito delicado e pessoal”, relata. “Com certeza me senti lidando com algo mais importante do que meu trabalho cotidiano, porque eu sabia que seria um relato de sua doença e de seus últimos dias e que muita gente o leria.” Essas últimas colunas repercuti- ram entre os leitores, que manifes- taram seu apoio a Sacks ao longo dos seis meses em que ele escreveu. Seus artigos receberam centenas de comentários e cartas, muitos deles agradecendo a Sacks por seu tra- balho, sua compaixão e pelas obras positivas que ele deixou espalhadas pelo mundo. “Sempreme impressionei com sua franqueza”, comentaCatapano. “Acho que o que mais me atingiu durante o processo foi o sentimento de que embora Sacks estivesse enfraque- cendo com o tempo, os artigos pare- ciam ficar mais fortes e mais profun- dos... A sensação da força mental e da força de escritor que ele manteve enquanto consumia sua força física e seu tempo foi uma experiência que me afetou muito.” Oliver Sacks morreu em casa no dia 30 de agosto de 2015. Ele tinha 82 anos. ■ laura dattaro é repórter freelance em Nova York com foco em meio ambiente e ciência. Texto originalmente publicado em 4 de setembro de 2015 no site www.cjr.org. Oliver Sacks em seu apartamento no West Side Village, em Nova York, em 2001, em fase anterior ao câncer LATINSTOCK/ERICA BERGER
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