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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 57 análise – e para o possível manancial que representam; uma vez examinado, o material pode ajudar a elucidar cri- mes antigos e investigações em curso e esclarecer muita coisa sobre a vio- lência sexual. Umdado impressionante revelado pelas investigações em Cleveland foi que até um terço dos estupros denun- ciados foi cometido por um agres- sor reincidente – proporção muito maior do que supunham as autori- dades envolvidas. “Trabalho com isso há 43 anos e achei que tinha um bom conhecimento da questão”, observa McGinty, que calculava que cerca de 15% dos casos seriam atribuíveis a reincidentes. “Fiquei pasmo.” As implicações são imensas. Todo crime não elucidado facilitaria a ocor- rência de outro estupro – e tirar um único estuprador que seja da rua eli- minaria um risco permanente. Segundo Shapiro, uma das coisas mais esclarecedoras do trabalho de Dissell e Atassi foi a atenção que as duas deram ao padrão de agressores reincidentes. Dissell começou a buscar informa- ção sobre os “rape kits” no final de 2009, quando Ohio foi abalado por um crime macabro: em Cleveland, 11 corpos foramencontrados no interior e nas redondezas da casa de Anthony Sowell, que já fora condenado ante- riormente por estupro. O caso levou Dissell e Atassi a investigar o trata- mento dispensado a casos de violên- cia sexual no condado de Cuyahoga, que inclui Cleveland. A dupla entrou com um pedido de acesso a informa- ções públicas – para saber, especifi- camente, o volume de kits de estupro não analisados em posse do departa- mento de polícia de Cleveland. Veio a resposta: não se sabe. O departa- mento, contudo, prometeu averiguar. Acesso à informação As duas não deram folga até receber uma estimativa: cerca de 4 mil kits nunca tinhampassadopor análise.Uma vez que a informação veio a público, a apuração só fez avançar. O procura- dor-geral de Ohio, Michael DeWine, anunciou que todo “rape kit” seria analisado no laboratório forense do estado, garantiu verba para tal e refor- çou os quadros do laboratório para dar conta da demanda. Em novembro de 2012, quando começaram a sair os primeiros resul- tados, McGinty foi eleito procurador do condado de Cuyahoga – na cam- panha, prometera restaurar a con- fiança da sociedade no sistema de justiça penal. McGinty conta que o único detetive de Cleveland encar- regado de investigar o primeiro lote de “rape kits” pretendia trabalhar em apenas cinco de cerca de 55 casos. Por achar o ritmo absurdo, o procu- rador repassou a tarefa a sua própria equipe de investigadores. “Achamos todas as 55 [vítimas]”, afirma. “Uma delas tinha falecido, mas tiramos uma foto da lápide.” Nos primeirosmeses, a equipe cor- reu contra o tempo. Mais da metade dos kits de estupro acumulados no município continha material gené- tico aproveitável que podia ser ingres- sado no Codis – o banco nacional de DNA dos EUA – e cotejado com o de suspeitos. Em 2013, no entanto, os casos mais antigos estavam perto de atingir o prazo máximo de 20 anos para a apresentação da denúncia. Às vezes, entre a chegada dos resultados do exame do DNA e a prescrição do crime a promotoria e a polícia tinham poucas horas para agir. Dissell lembra

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