RJESPM 16
58 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2016 do episódio em que os detetives fize- ram plantão em frente à casa de uma mulher até que ela voltasse da rua, pois teriam de apresentar a denún- cia até o fim do dia. Umdos casos naquele lote inicial foi o de Elias Acevedo, que já fora conde- nado por violência sexual e cujoDNA estava ligado ao de umcrime em1993. Acevedomorava namesma quadra de Ariel Castro, o homem que manteve três mulheres em cativeiro durante dez anos. Acevedo foi capturado em junho de 2013, um mês depois de as três terem escapado da casa de Cas- tro – e faltando apenas três dias para prescrever o prazo de sua prisão. Acevedo acabou confessando que estuprara e matara duas mulheres (uma delas desaparecida havia quase duas décadas) e que durante anos vinhaviolando trêsde suas filhas.Mos- trou à polícia o local, perto de umvia- duto, onde enterrara o corpo da jovem de 18 anos que assassinara em 1994. O tempo de prescrição criminal fora estendido havia pouco emOhio, uma das diversas consequências das inves- tigações em curso em Cleveland. Crimes sem solução “No começo, o objetivo era bem sim- ples”, contaDissell. “Se há crimes con- siderados sem solução, por que não solucioná-los?”. Uma vez que as inves- tigações começaram, no entanto, ficou claroquepoderiahaver consequências imprevistas. “Quandovocêvai à casade alguém20 anos depois de a pessoa ter sido estuprada, bate à porta e diz ‘Ei, achei o estuprador’, você vai encontrar uma série de reações”, explica. Emagosto de 2013, depois de cobrir a história gradativamente, Dissell e Atassi publicaram um especial em quatro partes sobre a investigação dos kits. A série – “Reinvestigating Rape” – apontou o índice inesperado de estupradores seriais, trouxe um mapa indicando, em cores, o local de crimes cometidos por agressores rein- cidentes, apresentou os envolvidos na investigação dos crimes ao leitor e explicou em minúcias o processo de análise do DNA contido num kit de estupro. O quemexe comDissell é amagni- tude do fracasso do sistema – e a tra- gédia resultante. “Fico pensando nos milhares de estupradores seriais que de algum jeito saíram impunes por causa das deficiências do sistema”, revela. “Como puderam escolher as pessoas mais vulneráveis, gente que tinha algum vício, algum problema mental, ou outro problema, e atacar essas pessoas? Enão forampegos por- que não conseguimos criar um sis- tema que pudesse ajudar essas pes- soas, ouvir essas pessoas ouatémesmo acreditar nessas pessoas.” Dissell atribui à imprensa parte da responsabilidade. “Devíamos ter ficado de olho em como esses casos estavam sendo tratados”, admite. O material coletado em casos de estupro ficou às moscas em Cleve- land e em outras cidades americanas por motivos complicados. O teste de DNA só começou a ser usado no final A apuração cuidadosa permitiu descobrir qual era o padrão de agressores reincidentes
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