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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 59 da década de 1990 e seu valor não foi imediatamentereconhecidoporórgãos de segurança pública. Até hoje, certos órgãos se aferram a uma antiga deci- sãodenão testar um“rapekit” se, diga- mos, a vítima tiver retirado a queixa. É comum, também, que um caso seja dado por encerrado se a vítima não prestar queixa dentro de um certo prazo após a suposta agressão. “Não estou dizendo que isso justi- fica tudo o que aconteceu”, diz Dis- sell. “Mas acho que é nossa função, como jornalistas, mostrar ao público a complexidade da questão.” Outros repórteres estão pegando a deixa. No meio do ano, o jornal USA Today fez uma vasta investigação para tentar determinar o total de kits de estupro que nunca haviam sido ana- lisados em escala nacional. Mais de 75 jornais e emissoras de TV que integram a cadeia USA Today Media Network colheram dados de 1.000 departamentos de polícia país afora. Descobriram mais de 70 mil “rape kits” não analisados. Steve Reilly, o repórter do USA Today que coorde- nou o projeto, diz que esse número é uma estimativa conservadora, já que muitos departamentos sóderamcifras aproximadas. “Tem muita cidade que só agora está começando a análise, e isso é o lado simples da história”, diz Dissell. “Quando há um resultado positivo e casos, vítimas e suspeitos, a coisa fica um pouco mais intensa em rela- ção ao tipo de história que a imprensa vai cobrir.” Intrepidez e compaixão Para Dissell, é num episódio des- ses que a cobertura contínua se faz importante. “Em casos como esse, nossa função é seguir firme e garan- tir que o problema exposto produza uma mudança duradoura, não só um ajuste de momento”, acrescenta. Passados vários anos, Dissell ainda escreve toda semana sobre um ou outro aspecto do caso dos “rape kits” – e dá aos editores o crédito por per- mitir que siga cobrindo o assunto. Já Atassi foi para oNortheastOhioMedia Group. Lá, cobre o governomunicipal. Shapiro louva a intrepidez e a com- paixão de Dissell, sua capacidade de cobrar ação de órgãos de segurança e justiça e, ao mesmo tempo, contar com sensibilidade a história das víti- mas, de fazer o caso avançar em vez de ficar apontando culpados. Para Dissell, o que importa são as vítimas. “É simplesmente de impres- sionar o impacto que isso está tendo na vida das pessoas”, diz. Uma das filhas de Elias Acevedo mandou um e-mail à jornalista depois que o pai foi condenado – para agradecer. Contou que já tinha dado queixa dos crimes, mas que até então a investigação nunca avançara. Se não fosse pela reportagemde Dis- sell, escreveu a filha, seu pai jamais teria sido punido. ■ chava gourarie é bolsista do Delacorte Center na CJR . Para segui-la no Twiter: @ChavaRisa. A jornalista ainda escreve toda semana sobre a história dos “rape kits” – e agradece aos editores pelo apoio Texto originalmente publicado na edição de setembro/outubro de 2015 da CJR .
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