RJESPM 16

REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 69 Ao longo do mês seguinte, a cober- tura das manifestações pelo YDN iria sofrer com a repercussão negativa do texto com o desmentido. Steven Brill – repórter, empreendedor e funda- dor da Yale Journalism Initiative, que capacita e dá orientação profissional a aspirantes a jornalista – diz que o tra- tamento dado ao desmentido do grê- mio seguiu a cartilha básica do jor- nalismo. Brill, no entanto, é da firme opinião de que o episódio “devia ter gerado a forma mais óbvia de jorna- lismo imaginável, que é [perguntar] se houve ou não segregação”. Segundo Brill, a equipe de edito- res do YDN tem medo de parecer indiferente a ambos os lados, sobre- tudo o dos manifestantes. Seu con- selho? “Ignorar e fazer jornalismo, nada mais. Narrar os fatos. Na hora de cobrir um assunto desses não dá para ficar pisando em ovos.” StephanieAddenbrooke, a estudante do terceiro ano que assumiu a chefia da redação do YDN em setembro de 2015, me recebeu em sua sala para dizer que a equipe editorial decidira coletivamente que o jornal não fala- ria com a CJR . Num comunicado, ela declarou: “Incentivamos qualquer um no cam- pus a trabalhar para nós, a escrever para nós e a compartilhar sua histó- ria conosco. Sabemos, no entanto, que nem sempre isso significa que as pes- soas vão querer ou se sentir cômodas com isso. Acreditamos, porém, que a maioria dos alunos que decide pas- sar um tempo conosco descobre que temos um forte compromisso com a comunidade”. O YDN faz uma cobertura séria, e considerável, de questões como a racial. Sua revista publicouuma repor- tagem impressionante sobre a falta de diversidade no corpo docente e suas páginas de opinião abremespaço para uma ampla gama de comentaristas, incluindo gente que se opõe aos pro- testos recentes (motivo de críticas indevidas ao jornal). Isso posto, a tensa relação do YDN com parte do corpo estudantil não é novidade. “Tem muita mulher per- tencente a minorias raciais no cam- pus que tem uma relação bastante conflituosa com o YDN ”, diz Adriana Miele, única mulher de uma mino- ria no time de colunistas do jornal. “A maioria do pessoal da redação é gente branca, de família rica. E acho que há uma falta de conexão entre sua visão [e] a experiência dessas mulheres aqui.” Relação tensa O trabalho no YDN não é remune- rado. Um cargo de editor sênior num jornal de faculdade, especialmente um diário, pode tomar mais de 40 horas por semana.É tempo demais se a pes- soa tem, alémdisso, umtrabalho remu- nerado em meio período. Isso expli- caria porque o pessoal do YDN viria de classes privilegiadas.Hoje, porém, um terço dos cargos de liderança da redação é ocupado por mulheres per- tencentes a minorias. O jornal disse não saber qual a composição racial da equipe como um todo. Durante os protestos, Miele, uma aluna prestes a se formar, escreveu uma coluna pedindo a estudantes de minorias que cooperassem com a imprensa. Não é tarefa fácil. Numa reunião da Next Yale, como foi bati- zada a campanha por uma reforma de fundo racial, Miele informou os demais de sua relação com o YDN . “Todo mundo (...) soltou um suspiro de espanto”, revelou. Na mesma noite da festa na frater- nidade SAE, os alunos receberam um e-mail peculiar de Erika Chris- takis, mulher de um administrador, ou “master”, de uma das 12 faculda- des de Yale. Desde então, esse e-mail e as circunstâncias que o cercam foram esmiuçados como se fosse uma passa- gemda Bíblia .Para resumir: Christakis estava respondendo a ume-mailde um Comitê de Assuntos Interculturais da universidade que pedia aos alunos que evitassem fantasias de mau gosto no Halloween. Christakis se opunha ao “exercício de controle implícito sobre os alunos da faculdade”, que a seu ver deviam ter liberdade para descobrir se fantasias com “cocares de penas, turbantes, camuflagem de guerra ou outro tomde pele, ou com a cara pin- tada de preto ou vermelho” poderiam descambar para caricaturas ofensivas. O aluno do terceiro ano David Ros- sler estava na redaçãodo Yale Herald , em pleno fechamento, quando rece- beu o e-mail de Christakis. “Minha primeira reação, sinceramente, foi

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx