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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 71 fatos daquela situação, já havia uma discussão sobre liberdade de expres- são”, diz Maya Averbuch, coeditora da Yale New Journal , uma revista impressa mensal. “Sou consumidora de notícias, mas acho que não tinha registrado, de antemão, a rapidez com que o grosso da cobertura acabaria sendo editorializado.” Por que as manifestações em Yale atraíram mais atenção do que as que ocorreram em outras universidades? “As elites da mídia têm uma obsessão doentia pela Ivy League”, diz Oppen heimer, [aludindo à nata das univer- sidades do país, que formamuma liga comas escolas demaior prestígio cien- tífico dos Estados Unidos, entre elas Yale, Columbia e Princeton] Há um motivo correlato: quem poderia ser mais privilegiado do que um “Yalie”? A universidade tem um endowment , ou dotação, de aproximadamenteUS$ 24 bilhões. NewHaven pode ser uma cidade complicada, mas a poucas qua- dras do comércio popular de uma Dollar Tree ou Family Dollar há uma J. Crew e uma Barbour coladas a uma universidadedeprimeiríssima. Relatos de trauma ligados a racismo ali, suge- rem críticos, têm de ser exagerados. Na internet, a estudante que aparece vociferando contra Christakis ganhou a alcunha de “the shrieking girl”, pela estridência. Umamatéria no siteDaily Caller revelou seu nome, o que fazem os pais, o endereço da casa e o valor estimado do imóvel. Uma avalanche de vitupérios levou a garota a apagar o perfil em redes sociais. No Face- book, segue viva uma página intitu- lada “Don’t hire [fulana]” (“Não con- trate [fulana]”). Segundo amigos, ela recebeu ameaças de morte. Tudo isso para a porta-bandeira da supressão da livre expressão. Melindre liberal A reitora-adjunta Risë Nelson confir- mou que vários alunos e membros do corpo docente receberamameaças de morte pela internet, o que a universi- dade está investigando. Como um exemplo do melindre liberal, Friedersdorf cita um artigo de opinião no Yale Herald no qual a autora afirma: “Não quero debater. Quero falar da minha dor.” DavidRossler defendeuo textonuma carta do editor, que explicouparamim: “Quando sua função é ser o líder de uma comunidade e alguémdiz: ‘Estou sofrendo’, nãodá para se defender afir- mando: ‘Você está errado’. A resposta correta nesse caso é tentar entender o porquê, ainda que não concorde”. Quando um “master” [figura que Yale pinta como uma espécie de pai postiço] sai correndo para debater, o ato é visto por alunos mais como intransigência do que apoio. Chris- takis não quis comentar. A autora do texto foi vilipendiada no Twitter e um editor pediu a Rossler que tirasse o artigo do site do Herald . Rossler recusou, mas cedeu depois que a própria autora veio pedir que o texto fosse retirado. Embora não tenha lido as mensa- gens em questão no Twitter, Rossler diz: “Imaginei que fossem parecidas a comentários que o site do Herald recebeu, alguns dos quais usavam a ‘n-word’ [referência ao termo nigger ] ou sugeriam que a autora se matasse. Era bem provável que comentários diretos pudessem ser aindamais hos- tis ou mais numerosos”. O grosso do diálogo na universidade A diversidade da equipe, a agenda e o processo de decisão editorial dos veículos universitários são uma via para entender os distúrbios em Yale
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