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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 73 fazendo um bom trabalho”, observa. “Uma das coisas que estamos mos- trando é que a verdade é diferente de listar fatos.” A título de exemplo, ele cita um artigo do YDN sobre um comício no campus emmarço de 2015: “Some students call for unity, while others question it” (“Certos estudan- tes pedem unidade, enquanto outros a questionam”). O texto, que cita Medina-Tayac como organizador e representante de uma entidade de cul- tura nativo-americana, oNative Ame- ricanCultural Council (NAACP), apre- senta 150 participantes e dez contra- manifestantes comoadversários iguais. “Acho o YDN um ambiente extre- mamente hostil”, disse ele, citando o “elitismo e a arrogância” da reda- ção e sua cobertura. Brea Baker, presidente do capítulo do NAACP no campus, vinha criti- cando o viés racial emYale bem antes do Halloween. A jovem de 21 anos é uma das principais organizadoras dos protestos e apareceu no programa de TV The View (ABC) em novembro para falar pelos manifestantes. O programa começou comuma dis- cussão do vídeo emYale. Em seguida, uma das apresentadores, Paula Fer- ris, perguntou: “Sabemos que houve uma série de eventos. Sabemos que você já está no quarto ano. O que já aconteceu com você, pessoalmente, no campus?”. A estudante conta um episódio de quandoestavano segundoano, quando ela e um grupo de amigos estavam na rua e “umamulher branca, mais velha, se aproximou de nós e disse: ‘Desde quando começaram a aceitar tanto negro nessa faculdade?’”. Como Baker estava num programa de TV, é compreensível que pergun- tem sobre sua experiência particular com o racismo. Para outros estudan- tes, ter de ser um porta-voz da raça pode ser uma imposição. Um exem- plo típico em sala de aula é quando uma questão racial vem à baila e todo mundo olha para alunos de minorias à espera de um comentário. É o mesmo com a mídia. Muitos defensores do Next Yale deixaram de dar entrevistas ao YDN . Adriana Miele, que é latina, usou sua coluna para tentar convencer essa turma a voltar a cooperar, mas entende o pé-a- trás. “Você precisa dar provas contun- dentes [para explicar] por que sente o que sente”, argumenta. “E é um pro- cesso desgastante, emocionalmente turbulento.” Posições radicais No dia dos confrontos comHolloway e Christakis, Greg Lukianoff falava num simpósio em Yale sobre liber- dade de expressão. “Quemvê a reação ao e-mail da Erika Christakis acharia que alguém exterminou uma aldeia indígena inteira”, brincou. Um aluno se levantou para criticar o comentário deLukianoff. Do ladode fora, começou a juntar gente para protestar. Na saída do evento, segundo o YDN , manifes- tantes teriam cuspido em vários dos participantes. Adriana Miele e dois amigos de ascendência indígena estavam entre o pessoal que rumou para o simpósio quando começou a correr a notícia do comentário da “aldeia indígena”. Miele conta: “Uns alunos antigos vie- ramali fora e disseramque estávamos dando razão ao racismo e que éramos radicais. Um homem começou a gri- tar ‘trigger warning!’ [‘aviso de gati- lho’] para mim”. O encontro com Christakis deixou impressões igualmente divididas. Tudo começou comumgrupo de alu- nos escrevendo a giz mensagens de solidariedade no chão. Dias depois, um aluno do terceiro ano de Yale foi confrontado enquanto passava um esfregão em parte das mensagens à noite. Tudo gravado. “Você sabia que temcalouro na Silli- man com medo de dormir na pró- pria cama?”, pergunta uma mulher que não aparece nas imagens, refe- rindo-se à faculdade sob supervisão de Christakis. “Acho que isso é totalmente sem fundamento”, ele responde. “Você é homem, branco e privile- giado, não tem como saber o que é ser uma mulher de uma minoria étnica neste campus”, diz ela. Enquanto segue esfregando, ele diz: “É justamente isso que impede qual- quer tipo de diálogo”. “E você aí, limpando no meio da noite...”, responde a mulher antes de voltar à carga. “E isso lá é diálogo?” Duas semanas depois, à noite, cerca de 400pessoas foramauma aula-protesto
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