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74 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2016 intitulada “Como políticas de gastos de Yale institucionalizam o racismo e a desigualdade – e o que fazer sobre isso”. À menção do movimento Next Yale, o auditório irrompeu em um aplauso estrondoso, pausado. “Ainda não acabou!”, gritavam. Umdia antes, o presidente da universidade, Peter Salovey, anunciara mudanças consi- deráveis em resposta a exigências de manifestantes, incluindo uma inicia- tiva para aumentar a diversidade do corpo docente e o espaço para ques- tões raciais no currículo. O maior aplauso veio após o dis- curso de certos líderes trabalhistas presentes, entre eles Brian Wingate – do sindicato Local 35, que repre- senta trabalhadores de serviços e manutenção em Yale. “Estava meio nervoso no começo”, revelou Win- gate. “Mas foi bom.” Cathleen Calderon, organizadora do Next Yale, também falou. Quando lhe mandei um e-mail sobre a ques- tão do politicamente correto apon- tada pela imprensa nacional, ela res- pondeu: “Obrigada pelo contato, mas não quero saber de falar sobre liber- dade de expressão. Não me envolvi nessa conversa, pois venho me dedi- cando à questão do racismo institu- cional histórico que existe em Yale”. Esse sentimento explica por que estudantes que entrevistei louva- ram Jelani Cobb, da NewYorker , pelo artigo “Race and the Free Speech Diversion” (“Raça e a distração da liberdade de expressão”). Nele, Cobb escreve: “A liberdade de ofender quem tem poder não é equivalente à liber- dade de intimidar os relativamente desempoderados”. O que significa intimidar? Em res- posta ao best-seller de Ta-Nehisi Coa- tes Between theWorld andMe (“Entre o mundo e mim”), David Brooks, do NewYork Times , escreveu uma coluna intitulada “Listening toTa-Nehisi Coa- tesWhileWhite” (Umbranco ouvindo Ta-Nehisi Coates”). Brooks questiona o “realismo excessivo” do livro, para então indagar: “Estoumostrandomeu privilégio se discordar? Éminha fun- ção respeitar sua experiência e acei- tar suas conclusões? Um branco tem direito de responder?”. Salto de empatia Sim, sim e sim, diz Scott Stern, essen- cialmente. Stern, queébranco, formou- -se no primeiro semestre do ano pas- sadodepois de quatro anos como colu- nista fixo do YDN e adiou a matrícula na Yale Law School para o final deste ano. No fimdo ano passado, Stern sen- tiunecessidadedemandar uma coluna para o YDN , como convidado, sobre “a verdadeira crise da expressão” (“The real speech crisis”), rejeitando a nar- rativa do politicamente correto. “Sinto que há uma situação estra- nha no ar, que as pessoas pensam que liberdade de expressão significa ou liberdade para se expressar sem consequências ou isenção de críti- cas”, explicou. “Não sei de onde os politicamente conservadores, sobre- tudo, tiraram a ideia de que é seu direito dizer o que bem entendem sem que ninguém fique abertamente incomodado.” Sternpediuum“saltode empatia”, que descreveu coma ajuda de uma cena de uma série popular noNetflix, a Master of None . Num episódio, Aziz Ansari e uma turma de amigos são cumprimen- tados por um sujeito que só aperta a mão dos homens. Mais tarde, as ami- gas dão aquilo como exemplo demiso- ginia velada. O personagemde Ansari primeiro questiona se a interpreta- ção é justa e depois percebe que é seu impulso a duvidar delas que é parcial. Essa questão – se as pessoas devem dar esse salto ou exercer seu “direito de responder”, como sugere Brooks – é central para conflitos envolvendo o jornalismo em lugares como Yale. Talvez seja possível, no entanto, che- gar a um meio-termo. No dia 9 de dezembro de 2015, Dean Holloway anunciou os resultados do inquérito da universidade sobre a fraternidade SAE e o simpósio sobre liberdade de expressão. “A SAE criou um ambiente caó- tico e seus membros, em certas oca- siões, agiram de forma desrespei- tosa e agressiva no trato com alunos que buscavam admissão”, escreveu Holloway. Só que a fraternidade já estava numa espécie de condicional, e o incidente não infringiu esses ter- mos. Holloway disse, ainda, não ter encontrado nenhum relato em pri- meira mão de que haviam cuspido em participantes do simpósio. Yale voltou à calma desde o feriado

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