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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 75 de Ação de Graças e manifestantes pretendemtocar o ano. Segue na pauta a briga para mudar o nome de uma faculdade, a CalhounCollege – home- nagem a um defensor da escravidão da Carolina do Sul. É uma priori- dade de muitos ativistas universitá- rios, incluindo em Princeton, onde alunos fizeram uma ocupação de 32 horas para protestar a imortaliza- ção da figura de Woodrow Wilson no campus. Universidades como Yale são cerca- das de tradição e estudantes demino- rias étnicas dizem que uma história de racismo permeia sua experiência. “Somos os críticos de cinema que de fato viram o filme”, explica Medina- -Tayac, defendendo a necessidade de umjornalismo feitoporminorias.Mui- tos estudantes desses grupos atuantes na imprensa universitária creem que a militância e o jornalismo emYale se reforçammutuamente: ambos buscam preencher uma lacuna de conheci- mento. É algo atingível com um salto de empatia? Uma voz branca teria vez nessa discussão? Imagens como a da garota aos berros no vídeo de Yale são desconcertantes, mas não contam toda a história. Anar- rativa do politicamente correto pega exemplos de má conduta de alunos para definir e desconsiderar ummovi- mento universitário nacional. Muito dessa análise é parcial e cética, o que ajuda a explicar por que tanto estu- dante não confia na imprensa. Medo de retaliação Certos estudantes têm, sim, medo de dar entrevista aos grandes veículos. Eles e amaioria das pessoas. Conside- rando a avalanche demensagens hos- tis na internet que uma declaração à imprensa costuma provocar, o temor é justificável. Segundo Dean Nelson, certos estudantes deixaram o cam- pus sob o peso esmagador das mensa- gens de ódio recebidas na rede. Esses jovens não são “mimados” por ficarem angustiados com incessantes insul- tos raciais e mensagens mandando se matarem. Coma possibilidade de rea- ções tão virulentas, é razoável temer que uma declaração sua seja distor- cida e descontextualizada, especial- mente por repórteres semcontato em primeira mão com seu drama. Às vezes, omedo de ser identificado como fonte é infundado. No caso em questão, há um grupo no Facebook cujo único propósito é fazer campa- nha contra as perspectivas de emprego futuras de uma estudante. Não há como considerar uma reação dessas um discurso civil saudável. Certos casos de correção política merecem chacota, mas estereotipar uma geração e todas as suas ações políticas não é bom jornalismo. No diálogo aberto, o ceticismo é comple- mentado por uma mente aberta, e o mesmo vale para o jornalismo. Antes de discutir, indivíduos pertencentes a minorias querem ser ouvidos. Não é que estudantes de Yale em geral não tenham reverência pela liberdade de expressão. Simplesmente queremque ela opere sob certas normas. Afinal, em qualquer seminário de faculdade, o aluno mais impopu- lar é aquele que é agressivamente argumentativo mesmo sem ter estu- dado nada. ■ danny funt é bolsista do Delacorte Center na CJR . Seu Twitter é @dannyfunt Alunos têm medo de dar entrevista. Temem que suas declarações sejam mal interpretadas a ponto de gerar hostilidade e perseguição nas redes sociais Texto originalmente publicado em 22 de dezembro de 2015 no site www.cjr.org.br
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