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76 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2016 PARA LER e PARA VER LEÃO SERVA ENTREVISTA Para Ruy Castro, seu melhor livro é o mais recente RUY CASTRO ESTÁ FELIZ como pinto no lixo. Mal lançou A Noite do Meu Bem , às vésperas do Natal, viu o livro ser coberto de elogios nas críticas de imprensa e em seguida atravessar o Carnaval desfilando pelas listas de mais vendidos. Nessa mesma época de folia, o jornalista, nascido em Minas mas agar- rado desde a adolescência ao Rio, se tornou tema do bloco carnavalesco “Imaginô? Agora Amassa!” , que o saudou como o “cronista-amor” da cidade que adotou. Desde que lançou Chega de Saudade (1990), uma história da Bossa Nova, logo depois de superar o alcoolismo, Ruy se tornou um escritor prolífico de biografias e livros sobre momentos e movimentos culturais, sempre marcados por pesquisas minuciosas. Como autor, na maioria das vezes, ou organi- zador, lançou cerca de 30 livros em 15 anos, pelo menos dois por ano, segundo a lista de publicações no site da Companhia das Letras. As muitas informações que apura acabam por não caber em uma obra única, resultando em uma espécie de “cauda longa”, com filhotes que tornam seus temas zeitgeists por vários anos. Foi assim com a releitura da Bossa Nova e sucedâneos Ela é Carioca e A Onda Que se Ergueu no Mar ; a bio- grafia de Nelson Rodrigues, O Anjo Pornográfico , e a coleção de obras do escritor relançadas em se- guida, entre outros. Ao lançar A Noite do Meu Bem , Castro disse considerá-lo o melhor de seus trabalhos até hoje: “Agora sinto que aprendi a fazer”, disse. Com vários projetos já engatilhados para os próximos dois anos, é provável que outros “melhores até hoje” venham a ser lançados em breve, como explica o au- tor nesta entrevista: Você diz que A Noite do Meu Bem é seu melhor livro. Você aprimorou a técnica de pesquisa, o que é visível pela quantidade de detalhes saborosos. O que mais o realizou no livro? Sempre tentei fazer com que cada livro superasse o ante- rior – ouvindo mais gente, ar- rombando mais arquivos e len- do mais material. Isso ficou cla- ro para mim até no tempo que cada livro me consumiu: Chega de Saudade e O Anjo Pornográ- fico , dois anos cada; Estrela So- litária , três anos; Carmen , cinco anos. A Noite do Meu Bem levou três, mas o livro com que ele tem de ser comparado é o Che- ga de Saudade , não as biogra- fias. Uma biografia é ummergu- lho na vida de uma pessoa; um livro de reconstituição histórica é um voo rasante sobre muita gente fazendo coisas importan- tes ao mesmo tempo; ou seja, o território que ele cobre é muito maior. Nesse tipo de livro, pri- meiro o autor tem de abrir ca- minho entre os milhões de par- tículas de informação que ele vai capturando e entender onde elas se encaixam; depois, tem de organizar aquilo de manei- ra coerente para o leitor. Em princípio, você parece uma pessoa mais ligada à Bossa Nova do que ao samba-canção, porque nasceu na época da Bossa Nova. Isso tem alguma influência na confecção do texto ou da pesquisa dos livros sobre cada um dos gêneros musicais e suas épocas? De fato, a Bossa Nova foi a mú- sica da minha geração – cresce- Este ano, Ruy Castro foi homenageado pelo bloco carnavalesco carioca Imaginô? Agora Amassa! FOLHAPRESS/RICARDO BORGES

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