RJESPM 16
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 79 leão serva é jornalista, professor do curso de graduação em Jornalismo da ESPM e escritor, autor de A Desintegração dos Jornais (Reflexão, 2015) e coautor do guia anual Como Viver em São Paulo Sem Carro. FILMES Visões antagônicas sobre o jornalismo em dois indicados ao Oscar DOIS FILMES INDICADOS ao Os- car 2016 apresentam visões an- tagônicas sobre o jornalismo. Ambos narram tragédias re- centes: Spotlight, eleito o me- lhor filme, é a história da série de reportagens do Boston Globe sobre pedofilia na Igreja Católi- ca; A Grande Aposta retrata os primeiros investidores que pre- viram a explosão da “bolha imo- biliária”, que deflagrou a crise mundial a partir de 2008. Os protagonistas de Spot light são os repórteres que, em busca da verdade, enfrentam os interesses poderosos do establishment religioso de Boston, com sua grande população católica. Embora não seja o centro da trama, A Grande Aposta apre- senta um repórter que cobre o mercado financeiro e prefe- re preservar suas fontes em lu- gar de denunciar o grande con- luio para esconder a iminência da implosão do mercado. Em um estudo sobre o jorna- lismo contemporâneo nos Esta- dos Unidos ( Detonando a Notí- cia , Civilização Brasileira, 1997), James Fallows descreve a mu- dança da imagem do jornalista e como é espelhada no cinema: nos filmes dos anos 1930, os re- pórteres eram personagens ín- tegros e corajosos, sempre ao lado do homem comum; nos anos 1970, eram mais bem pa- gos mas continuavam dispostos a enfrentar o poder; a partir dos anos 1980, jornalistas são “mais desprezíveis que advogados, po- líticos ou homens de negócios”. Em cada um dos dois indica- dos ao Oscar 2016, a imagem corresponde a um extremo des- ses paradigmas: Spotlight recu- pera o herói anterior aos anos 70; A Grande Aposta , a “figura desprezível” pós-anos 80. O jornalista do Wall Street Journal retratado em A Grande Aposta poderia ter revelado em primeira mão a fragilidade do sistema hipotecário dos Esta- dos Unidos. Não o fez para pro- teger o relacionamento com su- as fontes. Em Spotlight , uma equipe destemida, sob a liderança do publisher Marty Baron (atu- al editor do Washington Post ), produz um dos mais importan- tes conjuntos de reportagens da história recente, abalando a hierarquia católica e mudando o trato da Igreja de todo o mun- do com a questão. Em um tempo em que jornais parecem seguir a rota da extin- ção, o filme emociona pelo su- cesso do jornalismo investiga- tivo e pelo impacto mundial de uma reportagem local. ■ A viagem religiosa do autor de “1808” DEPOIS DE TRÊS grandes best- -sellers (“1808”, “1822” e “1889”), o novo livro de Lauren- tino Gomes foi recebido com si- lêncio pela crítica. O Caminho do Peregrino (Principium, 2015) é escrito a quatro mãos com Os- mar Ludovico da Silva, profes- sor de meditação cristã e outros temas religiosos. A imprensa em geral é laica, mas no Brasil esse distancia- mento resulta em desprezo por um aspecto universal da cultura. O livro narra uma viagem re- ligiosa de Gomes a Israel, visi- LIVRO tando locais onde ocorreram episódios da vida de Cristo. Os autores acrescentam reflexões sobre significados místicos das passagens, o que torna o texto didático sobre história e religião cristã. Além da camada religio- sa, o livro é uma crônica de via- gem escrita com a maestria que consagrou o autor. ■ Em Spotlight , vencedor do Oscar, o jornalismo enfrenta o poder Já em A Grande Aposta, um repórter prefere preservar suas fontes O Caminho do Peregrino Laurentino Gomes e Osmar Ludovico Principium, 2015, 198 páginas LATINSTOCK LATINSTOCK
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