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10 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2016 os dois últimos jornalistas , corres- pondentes do jornal escocês Sunday Post , que ainda trabalhavam na len- dária Fleet Street, emLondres, muda- ram-se em agosto do escritório que usavam ali, e colocaram a pá de cal no endereço mais famoso da imprensa mundial durante quase três séculos. Milhares de repórteres, editores e gráficos trabalhavamna rua, também chamada “rua da vergonha” por causa dos muitos escândalos que os tabloi- des britânicos publicavam. Lógica econômica Mas tambémali funcionavamos mais nobres jornais e revistas dos séculos 19 e 20 e correspondentes internacio- nais fizeram história com sua cober- tura dali, por exemplo, da Batalha da Inglaterra na Segunda Guerra. Quem deu a partida para o fim da Fleet Street foi Rupert Murdoch, o australiano que desde 1969 é dono de jornais ingleses entre outros muitos negócios de mídia em vários países. Em 1986, ele mudou seus diários, entre eles o lendário Times , para regiões mais afastadas de Londres, onde o custo de imóveis era menor e onde ele podia instalar compositoras e gráficas modernas. Aos poucos, todos os outros veí- culos seguiram a lógica econômica e a tendência tecnológica antecipadas porMurdoch. Nenhuma redação nem gráfica sobrou lá. Mas a Associação Britânica de Jornalistas mantém sua sede ali, no número 17. Financeiras e bancos Os prédios antes ocupados por Reu- ters, Daily Telegraph e outros íco- nes da imprensa, agora sediam prin- cipalmente financeiras e bancos. Os pubs têm frequentadores muito mais bem comportados do que no pas- sado. E nem se pode mais fumar no seu interior. ■ UMA FRASE “As forças nascidas da internet que estão devorando o jornalismo permitiram o surgimento de falsos jornalistas que poluem a democracia com notícias falsas” Antiga sede do Sunday Post em Londres Os últimos a abandonar Fleet Street SÓ MEMÓRIA ALÉMDE TRUMP, a grande imprensa do Ocidente também deixou de per- ceber o crescimento do número de eleitores britânicos que preferiram votar pelo Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, no plebis- cito de junho. À semelhança do que ocorreria em novembro nos Estados Unidos, quase todasaspesquisasdeopiniãoeasaná- lises jornalísticas previam vitória fol- gada da posição apoiada por intelec- tuais, elites e pela própria imprensa. Nocasobritânico, jornais composi- ções políticas de direita cujo público é majoritariamenteconstituídoporope- rários,apoiaramoBrexit,esesentiram vitoriosos. Eles deram expressão à maioria em geral silenciosa do país. Nas duas situações, o resultadodas urnasfoimuitoapertado,comosvotos divididos quase meio a meio. Mas os prognósticos eram de grande vanta- gem para o lado que saiu derrotado. A indústria de pesquisa de opinião, assimcomoa jornalística, teráde fazer umareavaliaçãodeseusmétodosapós esses dois fracassos para conseguir recuperar credibilidade. Além de questões técnicas e meto- dológicas, seus responsáveis terão de lidar com o problema de como não seremenganadosporpessoasque, ou se recusamaser entrevistadosnapes- quisa, ou mentem ao pesquisador. ■ Brexit passou batido OUTRO FIASCO (Jim Rutenberg, crítico de mídia do New York Times , sobre a proliferação de informações falsas que circularam pelas mídias sociais durante a campanha presidencial americana deste ano) SHUTTERSTOCK

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