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12 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2016 DIRETO DE COLUMBIA por caio túlio costa “ naética, você representaasimesmo.” Comessa frase, o professorDavidKla- tell deu início à sua aguardada aula de ética para os alunos da pós-graduação emjornalismodaColumbiaUniversity. Era uma manhã de terça-feira, quase fria, 12graus sobumsol tímidoemmea- dos do outono de 2013. Estávamos no auditório do terceiro andar do clássico edifíciodaColumbiaSchool of Journa- lism, solenemente guardadono saguão de entrada pelo busto de JosephPulit- zer, sinônimode liberdadede imprensa. “Nãome importaoquevocêpensa,mas simoque você faz”, prosseguiuKlatell, entãocom65 anos, os cabelos grisalhos e fartos, nemmagro nem gordo, a voz firme, o olhar maroto atrás dos ócu- los, quando afirmou pela primeira vez e repetiudurante a aula, por três vezes, amesma frase: “Nãome importa o que você pensa, mas sim o que você faz”. Klatell explicou aos alunos que, na ética e no jornalismo, as decisões são binárias. Simou não. “Ao contrário de muitas escolas emColumbia, e demui- tas escolas de jornalismo, esta escola não tem código de ética.” E pronun- cioumais duas frases buriladas durante anos. A primeira: “Nenhumcódigo de ética pode antecipar qualquer situ- ação”. A segunda: “Jornalismo é um processoorgânico– imaginemo jorna- lismodepoisdeAssangeedeSnowden”. Código de ética? Códigos são escritos para proteger empresas, afirmou. Para corroborar o raciocínio, Klatell exibiu no telão um trecho dos DezMandamentos (o filme) nomomento emqueMoisés (Charlton Heston) mostra ao povo hebreu a lei divina gravada emplacas de pedra no Monte Sinai. Em contraponto, exibiu em seguida a paródia de Mel Brooks (Monty Python) na qual um Moisés trôpego recebe 15mandamentos, mas deixa cair uma das pedras e imedia- tamente adapta o código para os dez mandamentos restantes e intactos. A sala veio abaixo de tanto rir. A maio- ria dos alunos – entre americanos, asiáticos, europeus e latino-america- nos –, não havia nascido quando Mel Brooks fez essa troça, no começo dos anos 1980. Mas funcionou. Essas leis, explicouKlatell, são puni- tivas. “Se não as cumprir, alguma coisa vai acontecer com você.” Ele não gos- tava de códigos nem de mandamen- tos. “Nenhum código de ética, nem mesmo os Dez Mandamentos, pode antecipar todas as situações e ofere- cer uma orientação útil – de qualquer forma, por que não poderiam ser 11, 15 ou 20mandamentos?”, questionou. A mesma pergunta foi repetida em artigo na edição nº 5 desta revista, publicadanosegundotrimestrede2013. A cultura do jornalismo, afirmou, é largamente diferente em todo o mundo. Océrebro deve comportar sua construção ética, e a ética no jorna- lismo tem a ver com cada um. O jor- nalismo é baseado fundamentalmente em 1) fatos e verificações, 2) contexto e explanação (nós, jornalistas, estamos entre os experts e a comunidade), 3) serviço público, 4) justiça em relação às fontes, às histórias e à sociedade em Jornalista em tempo integral Lições do professor – e colunista desta revista – David Klatell, que durante 25 anos foi a alma da Columbia Journalism School

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