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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 15 da inovação. Foi profético ao escrever que as empresas jornalísticas preci- sam apertar o passo para brigar por novos consumidores em um mundo marcado pelo apelo do que é intera- tivo, portátil e instantâneo. Na última aula de 2013, eume assus- tei quando vi que os alunos trouxe- ramuísque para comemorar o encer- ramentodo curso. Colocaramas garra- fas no centro damesa comprida onde se sentavam ao redor. Todos apre- sentaram seus trabalhos, e a discus- são foi detalhista, exaustiva, longa. No final, depois da uma da tarde, vie- ram os brindes com uísque e alguns petiscos. Ao sair da classe, perguntei ao Klatell se aquilo era normal, trazer bebida para a sala de aula. “Ora, por que não? Trabalharam duro, há que se comemorar. São todos maiores de idade”, respondeu ele, sem entender minha caipirice. Eu sorri amarelo. Logo depois, já em dezembro, sob um frio do cão, recebi seu veredicto sobre meu trabalho de pesquisa. Veio na formadeume-mail pedindodescul- pas por ter-se demorado umpouco no feedback: “Lamento ter levado tanto tempo para te responder. Este terrí- vel tempo frio fez com que os canos de água emnossa casa de campo con- gelassem e, em seguida, quebrassem. Estava totalmente ocupado tentando corrigir o problema. O seu paper é realmente maravilhoso! Fiz peque- nas observações sobre o texto, princi- palmente para melhorar a clareza do uso do inglês. Vou pedir aos estudan- tes de meu curso da primavera, Rein- ventando o Jornalismo de Televisão, que o leiam”. Ele se referia ao meu relatório de pesquisa “Um modelo de negócio para o jornalismo digital”, tambémpublicado nesta revista. Não preciso dizer quanto fiquei feliz com a avaliação. Profissional de TV O profissional Klatell nasceu para o jornalismo na televisão e logo depois se dedicou ao magistério. Formou-se em Cinema e Estudos Asiáticos pela Universidade deWesleyan, emMidd- letown, no estado de Connecticut. No jornalismo de televisão, ganhou vários prêmios como editor e produtor de programas de informação e relações públicas para WCBV-TV, em Boston, além de ter sido produtor indepen- dente de documentários. Escreveu, emcoautoria, dois livros sobre as rela- ções econômicas entre TV e espor- tes. De 1974 até 1993 (quando entrou para a Columbia), foi chefe de depar- tamento e diretor da Escola de Jorna- lismo da Boston University. Deu con- sultoria a empresas de comunicação em Portugal, Suécia, Suíça e China. Responsável pelos Programas Inter- nacionais da Columbia, coordenou parcerias e afiliados na França, Espanha, África do Sul, Argentina, Chile e Brasil. Foi chefe interino da escola de jornalismo e também vice- -diretor acadêmico. “Por um quarto de século, David Klatell foi a alma da Columbia Journalism School”, sin- tetizou Nicholas Lemman, o diretor da Escola de Jornalismo, que o suce- deu em 2004. David A. Klatell morreu em 11 de agosto de 2016 de um câncer de pân- creas – um dos mais letais –, pou- cas semanas depois de diagnos- ticado. A doença pegou de sur- presa a ele mesmo e a todos os familiares e amigos. Estava com 68 anos. Deixou a mulher, a profes- sora Nancy Lauter, duas filhas, dois genros, duas netas e um neto. Não enviem flores, pediu a família. No lugar, considerem fazer doação a ummemorial para um fundo de estu- dos na Columbia Journalism School (contatem Abigail Bedrick via mail: apb2107@columbia.edu ). ■ caio túlio costa é professor de Mídia, Informação e Comunicação na Era Digital na ESPM. Foi Visiting Research Fellow na Columbia University em 2013. Trabalhou durante 21 anos no Grupo Folha e é autor de quatro livros. David Klatell (1948-2016) ARQUIVO CJR
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