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26 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2016 A eleição presidencial de 2004 nos Estados Unidos deixou claro que a falta de umdebate público sério sobre a legitimidade da “Guerra ao Ter- ror” serviu aos interesses de um can- didato à reeleição que era impopu- lar. E isso apesar das dúvidas sobre o modo como o conflito no Iraque vinha sendo conduzido. Doze anos depois, Donald Trump usou o medo do terrorismo, especificamente do Estado Islâmico (EI), como um ins- trumento para seduzir o eleitor pre- ocupado com a segurança. O terrorismo – e as reações que provoca – nunca exerceu pressão tão extraordinária sobre a democracia e osmeios de comunicação, que se veem atuando a um só tempo como filtro e participante diante de tal violência. Especialmente nos dias de hoje, em que redes sociais se tornaram uma nova e dominante fonte de informa- ções tanto para o público como para jornalistas – e, às vezes, até para os próprios agressores. Segurança e terrorismo Dessa forma, a cobertura de ataques commotivação política pela imprensa volta e meia amplifica o medo do ter- rorismo emvez de analisá-lo ou ques- tioná-lo. Nas eleições americanas de 2004, certos setores da imprensa não dedicaramtempo suficiente para exa- minar diferenças importantes entre as propostas do entãopresidente, George W. Bush, e do adversário, JohnKerry. Segurança e terrorismo foram os temas predominantes na campanha eleitoral de 2004. Também serviram para os meios de comunicação e para os políticos se manifestarem sobre dois assuntos prementes: o medo de um novo ataque como o de 11 de setembro e o mal-estar em relação à guerra no Iraque. Tanto Bush como o democrata Kerry prometiam tor- nar os Estados Unidos um lugar mais seguro. O foco da campanha foi con- vencer o eleitor de que cada candi- dato tinha as melhores qualidades e a experiência necessária para alcan- çar esse objetivo. Um claro padrão surgiu: o eleitor resolveu apoiar Bush devido à linha dura de suas propostas contra o ter- rorismo em um cenário de amea- ças externas. Uma análise de alertas de terrorismo soltados pelo governo americano entre 1º de fevereiro e 9 de maio de 2004 dá provas estatísticas de que o instrumento fazia aumen- tar o apoio a Bush. Ummodelomate- mático mostrou que cada alerta sol- tado na semana anterior correspon- dia a uma alta de 2,75 pontos no per- centual de americanos que diziam aprovar Bush. Os avisos tinhamefeito similar até na avaliação que o elei- tor fazia da condução da economia pelo governo. A campanha foi marcada por uma renovação do interesse dos meios de comunicação na chamada “Guerra ao Terror”. Nos dias que se seguiram ao 11 de setembro, a CNNchamou a crise em curso de “ANova Guerra da Amé- rica”. O canal MSNBC usou o mote “América em Alerta”. A Fox News, que já registrara um aumento con- siderável de audiência na esteira do 11/9, foi a primeira a adotar a expres- são “Guerra ao Terror”, que tomou emprestada do governo Bush. Exibido quatro dias antes da elei- ção nos Estados Unidos, o vídeo de Bin Laden pretendia usar outros epi- sódios recentes, como atentados a bomba em trens emMadri em 2004 e a violência no Iraque, para lem- brar aquilo que poderia acontecer em solo americano. O vídeo imedia- tamente aumentou a visibilidade do principal tema da campanha de Bush: a ameaça representada ao país pelo terrorismo. Da noite para o dia, cen- tros de comando de terrorismo Esta- dos Unidos afora entraram em alerta máximo. Segundo uma sondagem inicial da revista Newsweek , a vanta- gem de Bush subiu para seis pontos devido à reação do público às decla- rações de Bin Laden. Campanha de um tema só A cobertura do vídeo variou de meio para meio. O New York Times ana- lisou a mensagem. O Washington Post deu, também, a transcrição com- pleta das declarações. Já a Fox News lembrou o telespectador do papel da Al Qaeda nos atentados de 11 de setembro de 2001 comuma chamada mais emotiva: “Bin Laden reivindica Assim como Bush, 12 anos atrás, Trump, em 2016, foi bombástico sobre o tema da segurança nacional durante a campanha

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