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e fazer juízos sobre gosto. Além de ser fonte de notícias, as plataformas sociais definemcada vezmais a arqui- tetura da transmissão de notícias no meio digital, ocupando espaço das próprias empresas jornalísticas. Jor- nalistas perderamo controle da disse- minação de seu trabalho – um desa- fio crucial para os meios de comuni- cação em geral, embora o problema seja especialmente agudo quando se trata de cobrir o terrorismo. Umaplataformadessaséumrecurso sem precedentes para que o público possa enviar, acessar e compartilhar informações e comentários sobre eventos terroristas. É uma tremenda oportunidade para jornalistas se conectarem com um público maior, mas tambémlevantaquestões cruciais: plataformas de redes sociais estão se convertendo em jornalistas e editoras – ainda que não seja de propósito? De que forma as organizações jornalísti- cas deviam reagir em relação à cres- cente influência de plataformas em episódios terroristas? OFacebook está se tornando domi- nante na mediação da informação para o público, o que levanta todo tipo de dúvidas quanto à monetiza- ção, à influência e ao controle sobre o formato como a narrativa de inci- dentes terroristas é estruturada. É de interesse público que essas platafor- mas deem à audiência a melhor das coberturas jornalísticas emperíodos críticos. Mas vai ser assim? Esses são problemas prementes de ordem política. Dar notícias é uma boamaneira de atrair gente para essas plataformas, mas é uma parte relati- vamente pequena do negócio delas. O modo como lidam com a questão quando o assunto é terrorismo é um caso extremoque reflete umproblema maior, mas aumenta o foco sobre o assunto e nos faz lembrar o que está em jogo. Para a grande imprensa, o assassi- nato de Rigby foi umverdadeiro teste para o tratamento a dar a conteúdo gerado por usuários quando surge uma notícia ligada ao terrorismo. “Esse era um conteúdo muito forte e perturbador”, declarou Richard Caseby, editor-chefe do jornal The Sun . “Será que agiria apenas como propaganda, causando ainda mais revolta? São dilemas morais difíceis vividos em meio a prazos apertados, intensa competição e o desejo demos- trar respeito pelosmortos e seus entes queridos.” Direitos exclusivos O vídeo apareceu na íntegra pri- meiro no YouTube. Canais de notí- cias como a Sky levaram ao ar ima- gens do agressor Michael Adebolajo empunhando um facão e vociferando contra o público na cena. A emissora britânica ITN conseguiu os direitos exclusivos para exibir o vídeo no jor- nal que vai ao ar no fim dia, poucas horas após o incidente e antes das 9 da noite – horário conhecido noReino Unido como watershed (na tradução literal, divisor de águas), que marca a liberação para as emissoras veicu- larem conteúdo para adultos. Essas reportagens, ao contrário do vídeo do YouTube que circulou por redes sociais, foram editadas, contextua- lizadas e acompanhadas de alertas. Ainda assim, a agência reguladora da radiodifusão no Reino Unido, a Ofcom, recebeu mais de 700 quei- xas do público sobre as transmissões, inclusive no rádio. A Ofcom inocen- tou as emissoras, disse que o uso que fizeram do material era justificado, embora tenha questionado se elas haviam advertido suficientemente o telespectador sobre o caráter violento do conteúdo, e reafirmou a importân- cia de suas diretrizes. Para as plataformas sociais, o episó- dio levantou duas questões. Primeiro, foi por meio delas que a notícia veio a público, suscitando dúvidas sobre sua responsabilidade pelo conteúdo postado nas redes. Segundo, o inci- dente trouxe à tona umproblema que envolve a atitude de plataformas em relação a usuários que postammate- rial inflamatório. Essa segunda indagação surgiu durante o julgamento do segundo agressor, Michael Adebowale. Ade- bowale tinha expressado a intenção de cometer atos de violência no Face- book, e o sistema de monitoramento automatizado da empresa tinha fechado algumas de suas contas – mas essa informaçãonão foi repassada aos serviços de segurança. O Face- book foi acusado de irresponsabili- dade. “Se uma empresa sabe que um Com tanto streaming em tempo real, fica mais difícil conciliar proteção e segurança com respeito à privacidade e liberdade de expressão

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