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34 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2016 meios de comunicação. Mas e quando umterrorista comoLarossi Abballausa o Facebook Live para transmitir ima- gens de si mesmo, após assassinar um policial francês e a mulher, enquanto mantém como refémo filho de 3 anos do casal, profere ameaças e promove o EI? Embora no caso Rigby as decla- rações e atos dos assassinos depois do ataque tenham sido transmitidas por testemunhas no local, no caso de Abballa era elemesmo quem transmi- tia ao vivo e controlava o próprio feed – um material que foi reaproveitado por meios de comunicação, embora de forma editada e contextualizada. Voz direta Permitir acesso praticamente irres- trito que dê ao cidadãouma voz direta, imediata e sem filtro também tem seus prós. Diamond Reynolds filmou ao vivo, pelo Facebook, o assassinato a tiros do namorado, Philando Cas- tile, por um policial em St. Paul, no estado americano de Minnesota. O vídeo foi visto por milhões, compar- tilhado em redes sociais e reprodu- zido por emissoras de TV e sites de notícias. Atraiu atenção, em parte, porque era o último de uma série de incidentes em que negros nos Esta- dos Unidos foram alvo da suposta brutalidade da polícia. Nesse caso, o Facebook Live tornou uma injustiça sistemática visível, graças à rápida penetração da plataforma. A polí- cia local contestou a versão de Rey- nolds do episódio, mas a transmis- são ao vivo e a pronta disseminação do vídeo garantiram que a narrativa tivesse forte impacto na percepção do público. Embora tenha sido contex- tualizada em distintos graus quando reutilizada por organizações jornalís- ticas, a narrativa foi determinada em grande medida por Reynolds e aque- les que a apoiavam. Redações precisam considerar como cobrir esse tipo de transmis- são e o que fazer comomaterial. Estu- dos revelam distintas abordagens ao tratamento de imagens fortes como essas, ainda que não estejam liga- das ao terrorismo. A organização jor- nalística devia dar acesso direto ao vídeo ao vivo como parte da cober- tura, como provavelmente faria com imagens de uma afiliada ou de uma agência de notícias? A princípio, a maioria delas diria que evita virar uma plataforma sem filtro para transmis- sões em vídeo ao vivo por qualquer um, sem controle editorial. Como disse Emily Bell, diretora do Tow Center for Digital Journa- lismna Columbia JournalismSchool, isso reflete uma diferença entre orga- nizações jornalísticas e plataformas digitais: Quando foi feita a jornalistas e exe- cutivos de empresas de comunicação a seguinte pergunta: “Se pudesse lan- çar algo que permitisse a qualquer um transmitir vídeo ao vivo em sua plata- forma ou site, você o faria?”, a resposta, após um momento de reflexão, quase sempre foi “não”. Para muitos edito- res, até o risco de permitir comentá- rios sem moderação em um site já é grande o suficiente [;] a ideia de deixar o mundo fazer uma autocobertura sob sua marca segue execrada. E operado- ras de plataformas estão começando a entender o porquê . Organizações jornalísticas estão tendo de negociar com platafor- mas uma forma de habitar o mesmo espaço quando surgem esses dile- mas. Às vezes, têm de agir unilate- ralmente. ACNN, por exemplo, desa- tivou a reprodução automática de vídeo em suas páginas do Facebook emcertos episódios terroristas, e volta e meia posta advertências sobre um conteúdo que possa chocar. Posição delicada As plataformas estão em uma posi- ção difícil, pois precisam conciliar pressões conflitantes oriundas dos interesses da própria empresa, das demandas do consumidor por acesso aberto, do interesse público envolvido no apoio ao jornalismo de qualidade e da meta de fomentar sociedades seguras e coesas. São organizações relativamente jovens que cresceram depressa e cujo conhecimento insti- tucional sobre essas questões ainda é embrionário. Essas empresas aceitaramo fato de que têmumpapel empolíticas públi- cas de combate ao terrorismo. OFace- book hoje tem um diretor de política de contraterrorismo – e foi além da maioria das organizações jornalísti- cas do Ocidente ao se deixar cooptar A ideia de deixar o mundo fazer uma autocobertura usando as redes sociais ainda é execrada pelos veículos de comunicação
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