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38 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2016 declaração posteriormente revista. “Não é que tenham errado ao decla- rar isso”, reconhece Bergen, pois essa é a lógica de ter quatro bombas em quatro lugares distintos. Quando sur- giumais informação, “quiseram tran- quilizar o público e dizer que não era uma célula.” • Embora seja importante manter a objetividade, o jornalista também deve considerar como certos deta- lhes serão recebidos no contexto da retórica política atual. No caso de Ahmad Rahami e das explosões em Chelsea, Harris explicou que lidou com extrema cautela com informa- ções críveis que davam conta de que Rahami estava nos Estados Unidos por causa do pai, que pedira asilo: “No momento político que vivemos hoje, em que um candidato em par- ticular aproveita a (...) suposta ame- aça de refugiados, informar que se tratava do filho de um refugiado teria deflagrado toda uma discus- são política”. Bergen observou que, nos últimos anos, a tendência tem sido citar o menos possível o nome do autor do atentado e fechar o foco nas vítimas. Beckett escreve: “Jorna- listas precisam refletir se estão tra- tando proporcionalmente histórias similares em lugares distintos e se incluem vozes diversas e comentá- rios fundamentados”. • Já há uma história para contar? “Estava sendo muito pressionado no domingo [o dia seguinte às explosões emChelsea] para escrever algo”, rela- tou Peter Bergen, da CNN. “O que disse foi ‘nãoposso escrever nada, pois não sei quemé essa pessoa’.” Quando ficou sabendo quemera Rahami, Ber- gen buscou um ângulo analítico para contextualizar a motivação: “Ele não é estrangeiro, não é refugiado, não é um imigrante recente. Não é preciso entrar no lado político da questão. Ele é umcidadão americano”. Bergen esperou por mais informações antes de fazer qualquer análise. • Não confundir terrorismo com Islã e não deixar para cobrir o Islã só quando há umincidente terrorista. Na conferência Excellence in Journalism realizada entre 18 e 20 de setembro de 2016, um formidável painel sobre a cobertura do Islã incentivou jorna- listas a conhecer melhor a comuni- dade muçulmana e não recorrer a ela apenas em momentos de vulnerabi- lidade e dor. Como explica a advogada e escri- tora Rafia Zakaria em texto para o Tow Center, há uma confusão, res- paldada pela legislação americana, entre terrorismo e Islã – a ponto de muita gente achar que todo terro- rista é muçulmano. A imprensa pre- cisa separar as duas coisas e combater esse preconceito com uma cobertura responsável. Beckett tambémobserva que “narrativasmais construtivas que incluamempatia, resiliência e respos- tas positivas ao terror devemser cria- das como parte da própria cobertura jornalística”. • Redes sociais são uma grande ferramenta jornalística para encon- trar fontes e testemunhas: Facebook, Twitter, LinkedIn. É preciso, con- tudo, ter critério ao falar com essas fontes e publicar suas fotos ou infor- mações. Grupos como o First Draft estão criando ferramentas colabora- tivas para verificar relatos de teste- munhas diretas. • “Jornalistas são céticos por pro- fissão”, lembra ShaneHarris, do Daily Beast . Um jornalista deve lembrar disso todo dia ao avaliar a informa- ção que recebe. Também precisa ter cuidado para não perpetuar narrati- vas pomposas. Écomo sustentaHenry Wismayer na CJR : “Ao acatar a ideia da guerra ideológica – do nós versus eles –, a imprensa do Ocidente está precipitandoo futuro apocalípticoque o Estado Islâmico traçou”. ■ nausicaa renner é editora-associada da Columbia Journalism Review e do Tow Center for Digital Journalism. Seu Twitter é @nausjcaa. Texto publicado no site www.cjr.org em 29 de setembro de 2016. A capacidade de extremistas de disseminar informações e recrutar aliados só cresceu com a ascensão das plataformas sociais

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