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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 45 A velha guarda do jornalismo inglês lota a redação do tabloide Evening Standard em 4 de junho de 1975 tão dos jornais deveria reagir. As respostas foram edita- das em benefício da concisão e clareza. O que suas pesquisas e entrevistas com jornalistas mostram sobre o ânimo nas redações? Tirei um ano sabático em 2014 e passei um tempo em várias redações realizando entrevistas. Passar esse tempo nas redações foi esclarecedor, pra dizer o mínimo. Eu chamaria o que está acontecendo de depressão orga- nizacional, e não falo isso à toa. Houve muitas perdas nas redações. Os jornalistas não perdem só o emprego, eles perdem a carreira e até uma parte da identidade deles. Vi muitos jornalistas que não aguentaram e começa- ram a chorar. Eles estão realmente arrasados pelo que aconteceu com a profissão que eles amavam tanto. Foi muito perturbador. Não tenho um indicador estatístico para o ânimo das pessoas, mas quando você entra nessas redações e con- versa com gente que dedicou 20 anos, 25 anos ou até 30 anos de vida não só para a profissão, mas muitas vezes para aquele jornal específico, é muito revelador ver quão desorientados eles ficaram com o que aconteceu com uma profissão que adoravam. Você ouviu alguma história especialmente comovente ou surpreendente em suas entrevistas? Conversei com um homem que trabalhava em um jor- nal de tamanho médio. Ele foi demitido duas vezes – as duas posições em que ele trabalhou foram cortadas – e ele sobreviveu. “Estou à beira do precipício. É como se eu estivesse no corredor da morte”, disse. Tratava-se de um jor- nal sindicalizado e o costume lá era “o último a entrar é o primeiro a sair”. Quando os cortes começaram, ele estava no finzinho da fila nas duas vezes. Na primeira demissão, outra pessoa estava saindo do jornal e ele aca- bou assumindo a vaga. Na segunda vez, um colega mais velho se ofereceu para uma demissão voluntária e sal- vou o emprego dele. “E como vai ser daqui para a frente? Afinal de con- tas, você ainda está aqui e está trabalhando”, perguntei. “É, mas provavelmente não voumais assumir nenhum cargo aqui no jornal e não sei quanto tempo este aqui ainda vai durar”, ele respondeu, embora soubesse que não estava mais no fim da fila. Conversei com uma moça que trabalhava em um jor- nal grande. Ela conseguiu o emprego que desejava assim que saiu da faculdade. Era redatora e designer e estava fazendo um ótimo trabalho, enquanto no jornal havia um corte atrás do outro. Mas ela estava completamente esgo- tada e conseguia perceber os sintomas da estafa: “Eu tinha enxaquecas, ficava doente direto”. Ela contou que o nível de stress, asmudanças e todas as tarefas na redação tinham chegado a um ponto limite: “Não era mais o trabalho que eu tanto amava”. E iamacontecer novos cortes. Ela procu- rou o chefe, que disse: “Não acho que você vai ser demitida, podeficar sossegada”.Mas talvez ela tivesse que voltar para o turno da noite, agora que tinha duas crianças pequenas.
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