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46 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2016 Quando ela saiu do jornal, a saúde dela melhorou na hora, as enxaquecas sumiram. Trabalha agora como relações públicas para um distrito escolar e adora o que faz. Contou que sente muita falta do jornal e do trabalho: “Mas sei que aquela vida não é mais pra mim”, garante. Esses são relatos que realmente marcam a gente. Quem faz parte dessa “geração perdida” de que você fala em seu livro? Acho que existem pelo menos três gerações “perdi- das”. Com certeza uma delas é a dos que perderam o emprego, e às vezes até a profissão, nos cortes e demis- sões. A segunda é a dos jornalistas mais velhos. A cul- tura mudou muito e a carga de trabalho também – os jornais diminuem a equipe mas querem continuar pro- duzindo na mesma escala de antes. E, além disso, exis- tem as inovações tecnológicas: “A gente quer que você produza um vídeo ou tire umas fotos ou escreva para o online”. E também há as redes sociais: “Você precisa tweetar tantas vezes por dia e fazer não sei quantos posts no blog”. Essa cultura se transformou drasticamente e, de certo modo, a geração mais velha sente uma perda. Enquanto isso, a geração mais nova está chegando e não temmuita certeza da cultura ou das posições do jor- nal; eles estão tentando entender isso tudo. Eles chegam com perspectivas diferentes das coisas. Sabem lidar com ferramentas multimídia e a mídia social, mas precisam aprender sobre profundidade e qualidade de reporta- gem. Será que eles só se interessam em conseguir mais cliques e não se preocupam em fazer outras duas ou três ou quatro entrevistas para melhorar o material? Não tenho certeza. E não tenho certeza se essa geração está recebendo a orientação adequada dos mais velhos, por- que eles estão ocupados demais para transmitir a mis- são e as qualidades estabelecidas. Então você temvárias gerações tentando achar o cami- nho delas, e isso não é fácil. E também existe um con- flito de gerações aí. Jornalistas entre os 35 e os 45 anos de idade estão largando a profissão – especialmente as mulheres. É um conflito que com certeza muda a cara das redações e, francamente, muda até a cara das próprias notícias. Em um capítulo do seu livro você fala sobre como as mulheres foram especialmente afetadas por essa fuga das redações. O que mais chamou sua atenção na experiência das jornalistas? Só os números já foramum choque – o número demulhe- res que disseram que não esperavam estar no jornalismo em até 5 anos, ou que não tinham certeza disso. Colhi essas respostas emminha pesquisa de 2014 [emumuni- verso de 1.686 entrevistados em 142 jornais] . Três quar- tos das jornalistas estavam procurando uma carreira em outra área, ou queriam se dedicar à família, ou esta- vam atrás de uma outra oportunidade fora das redações. Isso vai ter um efeito colateral sério no jornalismo que está sendo produzido. Precisamos de diferentes vozes nas reuniões de pauta para dizer: “Espera aí, e essa questão aqui, e aquela questão ali?!” – e represen- tar diversos pontos de vista. E isso também vale para minorias em geral. Precisamos de mais diversidade e, de verdade, acredito que, quanto menores as redações, menor a diversidade, infelizmente. JONATHAN TORGOVNIK/GETTY IMAGES

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