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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 49 cou quase uma dezena de telefone- mas e e-mails como produtor da Vice . Ele pediu que ela ajudasse a equipe a falar comjovensmuçulmanos radicais dos subúrbios de Paris e os orientasse sobre amelhormaneira para filmar as cenas que quisessemmostrar nodocu- mentário. Vidon estava disposta, mas toda vez que ela perguntava sobre o orçamento da Vice , ou sobre as diá- rias que eles estavam pensando em pagar a ela, o produtor ou ignorava a pergunta ou dizia que eles entrariam em contato mais tarde. “Eleficavame sondandodeumjeito aflitivo,masnunca falavadomeupaga- mento”, conta Vidon. “Eu percebi na hora que tinha alguma coisa errada.” Enquanto isso, conforme e-mails a que a CJR teve acesso, o produtor fazia a mesma coisa com outra jor- nalista francesa, Karine Barzegar, que tinha trabalhado pouco tempo antes como produtora-associada para uma matéria sobre o ataque ao CharlieHebd o para o 60Minutes – um dos programas jornalísticos mais tradicionais da TV americana. Ao longo de uma dúzia de e-mails e telefonemas, o mesmo produtor pediu a Barzegar que coordenasse fil- magens de unidades antiterrorismoda polícia e dentro de umpresídio, além de conseguir acesso a um programa antirradicalização e entrevistar um antigo recruta do Estado Islâmico nos subúrbios de Paris, entre outras solici- tações. Novamente, toda vez que Bar- zegar perguntava sobre seu dinheiro, era cuidadosamente evitada. Maya Vidon e Karine Barzegar são jornalistas francesas tarimbadas. O trabalho delas aparece com frequên- cia na imprensa francesa. Vidon tem muita experiência comoprodutora em Paris para veículos de informação em inglês, incluindo o Washington Post , o USA Today , o Globe & Mail , a Vanity Fair e aAl Jazeera. Karine já trabalhou como repórter e produtora para AP, BBC, CBS, ChicagoTribune , Channel 4 e outras organizações. Com mais de 40 anos somados de experiência como freelancers, elas dizem que nunca tinham visto o tipo de tratamento que receberamna Vice . Mas não foi só aquele produtor, não foram só Vidon e Barzegar, e não foi só Paris. Aida Alami, uma jornalista marro- quina, foi procurada por outro pro- dutor da Vice para um projeto local. “Passei contatos para eles, expli- quei a história, ajudei a planejar um itinerário, basicamente fiz toda a pré- -produção para eles”, explica Alami, calculando que as horas que ela tra- balhou para a Vice ao longo de vários dias equivalema praticamente umdia inteiro de trabalho. E-mails trocados por Alami e os funcionários da Vice , consultados pela CJR , confirmamsua história e todo o trabalho que ela rea- lizou para a Vice . “Isso é algo pelo que normalmente você é pago, por mais que sejam só uns telefonemas. Uma coisa é fazer um favor para umamigo, outra coisa é quando usa alguémpara fazer toda a pré-produção de uma matéria e de repente some.” Alami já trabalhou com pratica- CACO GALHARDO

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