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50 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2016 mente todas as grandes organizações denotícias, incluindo aCNN, aBloom- berg, o New York Times , a Foreign Policy e o USA Today . Ela disse que a Vice é sem dúvida a pior empresa de comunicação com a qual já lidou. Passei pela mesma experiência, e foi assim que conheci Maya Vidon, Karine Barzegar e Aida Alami. Tam- bém sou freelancer, em Tel Aviv, onde já trabalhei para vários gru- pos de comunicação como repórter e produtora. Quando a revolta palestina de outu- bro de 2015 começou, ofereci uma matéria para a Vice sobre a causa da tensão e sua relação com o Monte do Templo, um lugar de disputas em Jerusalémpor ser sagrado para judeus e muçulmanos. Uma editora da Vice se interessou pela história, combina- mos um preço e o número de toques e eu enviei a matéria no prazo com- binado, o dia seguinte. A editora fez alguns comentários vagos, e mandei uma revisão no dia seguinte. Foi aí que a editora sumiu. Depois de cinco dias de ligações e e-mails não respondidos, ela finalmente apareceu, dizendo que havia tido uma emergência familiar. Àquela altura a matéria já não tinha relevância, então ela me ofereceu 75 dólares – 15%do valor ajustado antes. Como jornalista independente, preciso receber pelas matérias que escrevo para pagar as contas, e eu tinha acabado de passar três dias tra- balhando naquela. Já escrevi para vários veículos, incluindo a Time , a Newsweek e o NewYork Times . Nunca tinha passado por nada assim. Como qualquer freelancer, já estou acostu- mada a esperar um mês ou dois para recebermeudinheiro, ou ter que caçar o editor até que depositemmeu paga- mento, mas nunca tinha sentido que estavam se aproveitando de mim de um jeito tão descarado. Depois de um mês me sentindo enganada, decidi que amelhor coisa que eu podia fazer era contar minha história para outros jornalistas, para que eles pudessem se proteger. Escrevi ume-mail rápido contando o que tinha acontecido emandei para a lista internacional de antigos alu- nos da Columbia Journalism School. O assunto era “ Vice : cuidado, freelan- cers”. Momentos depois, minha caixa de entrada estava cheia de e-mails de outros jornalistas que passaram por apertos parecidos coma Vice . Amaio- ria das histórias era pior que aminha. Muitas histórias ruins Nem todos os jornalistas mencio- nados na matéria foram abordados dessa forma. Depois de ouvir só his- tórias ruins de antigos empregados e freelancers, eu tentei achar gente que pudesse falar sobre experiências boas com a Vice . Eu lancei a pergunta no Facebook e também falei com meus colegas para saber quem tinha traba- lhado para a Vice como freelancer, ou quem conhecia alguém que tivesse, que pudesse me contar sua experiên- cia, boa ou ruim. Das 25 pessoas com quemfalei, ao vivo, por e-mail ouFace- book, três disseram que tiveram uma boa experiência como freelancers na Vice . Todo mundo falou em off, pois querem continuar a trabalhar com a revista, mas uma das jornalistas com quem falei disse que precisou de dois meses e três ligações para ser paga por umamatéria. Outradisse quenunca foi tão mal paga quanto na Vice . Também falei com uma amiga que ainda escreve regularmente para a revista e não quis dar o nome porque não quer fechar as portas na empresa. Ela disse que gosta de trabalhar com eles, mas acha que émais bem tratada porque é muito amiga de um editor da revista. O diretor de comunicação da Vice também me apresentou para três jornalistas freelancers que tive- ramboas experiências coma empresa. Um jornalista premiado que vive na Europa e me pediu anonimato por medo de represálias disse que a Vice prometeu a ele um emprego no novo escritório que a empresa plane- java abrir em sua cidade. Eles pedi- ram várias matérias e publicaram todas. A direção da Vice garantiu que o nome dele estava no topo da lista para comandar a sucursal, que seria aberta emduas semanas. Mas, depois que os artigos foram publicados, ele passou semanas sem nenhuma notí- cia. Não teve resposta sobre o paga- mento das notas fiscais, e só depois de várias ligações recebeumetade do que a revista devia. Ele contou que decidiu não criar caso, porque achou que ainda estava sendo cotado para a proposta de trabalho. Mas depois de um ano os planos para a nova reda- ção não deram em nada e ele ainda não havia recebido a outra metade do pagamento. Outro jornalista freelancer que tra- balhou com a Vice por mais de dois anos teve que mudar para outro con- tinente por causa de seu cargo na empresa. Na ocasião, a Vice se recusou a pagar pelas despesas da mudança. Ele foi demitido quase imediata- mente depois. O jornalista se recu- sou a falar comigo por causa de um contrato de confidencialidade assi- nado com a companhia, mas a histó- ria foi confirmada por vários colabo- radores antigos da Vice . Susana Ferreira, outra jornalista premiada, disse que se sente muito mal hoje por ter sido a responsável por apresentar Maya Vidon à Vice .

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