RJESPM_18
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 55 adversários no Partido dos Traba- lhadores, o PT. Saí impressionado não só com as diferenças entre os dois lados, mas com as semelhan- ças. Quem decide a política no Bra- sil é um meião que reúne de 40% a 60% dos deputados e senadores. A função do presidente da República, seja (ele ou ela) de esquerda ou de direita, é conquistar – e manter – o apoio desse grupo. Vi tambémque, napolíticabrasileira, ninguémservedebastiãomoral.Ocaso Lava Jato, que investiga atos de cor- rupçãonaPetrobras, revelou aquilode queos brasileiros sempre suspeitaram: que políticos de qualquer bandeira podem estar metidos em corrupção. Dilma Rousseff, cujo partido foi acu- sado de saquear a Petrobras, foi subs- tituída no processo de impeachment pelo vice, Michel Temer, do PMDB, que também é acusado de participa- ção no escândalo. O argumento mais forte do PT parece ser aquela velha desculpa de criança: “Não fui só eu”. É mais fácil ser objetivo ao contar uma história semheróis e commuitos vilões. Apartemais difícil foi interpre- taraConstituiçãobrasileira.Aqui, tenho de agradecer a analistas e a professores dedireitoque sedispuserama explicar o processo. A tentativa do PTde retra- tar o caso como um golpe de Estado foi um sinal de desespero. O partido sabia melhor do que ninguém que o impeachment é basicamente um pro- cesso político e que Dilma perdera o apoio da maioria no Congresso e nas ruas. E, na política, quem não tem apoio perde. Viés da imprensa local Todo jornalista estrangeiro precisa, ainda, estar atento à possível influ- ência subliminar da imprensa local sobre o trabalho que faz. Lembro que em abril, um dia antes da coletiva da presidente com jornalistas estrangei- ros, Dilma falou com a imprensa bra- sileira. Ao narrar o episódio, um dos repórteres locais de TV agiu como se tivesse sido atacado por partidários de Dilma em frente ao palácio, pintando um cenário que beirava a violência. Estava lá e não lembrava de nada pare- cido. Outro exemplo é a cobertura de acordos de delação premiada no caso Lava Jato. Naturalmente, o Financial Times nunca noticia um fato desses antes de ter sido anunciado pela Jus- tiça e visto por nós. É preciso sempre ver, ouvir e analisar as coisas em pri- meira mão. Isso posto, o desafio que resta para o correspondente estrangeiro é resu- mir os fatos em poucos parágrafos para um leitor com o tempo contado do outro lado domundo. Para esse lei- tor, os longos meses de reportagem e análise para produzir esses parágra- fos – as viagens a Brasília (com suas extensões, como no caso da fatídica coletiva comDilmaRousseff ) –podem não ser visíveis. Mas nempor isso são menos importantes. ■ joe leahy é correspondente-chefe do Financial Times no Brasil, baseado em São Paulo. Em 17 de abril, a Câmara dos Deputados aprovou o relatório pró-impeachment de Dilma Rousseff, por 367 votos a favor, 137 contra ANTONIO AUGUSTO/CÂMARA DOS DEPUTADOS
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx