RJESPM_18
58 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2016 parar por aí. Só porque não pode- mos e não iremos calar nem censu- rar a livre expressão não significa que devamos cruzar os braços, que sejamos impotentes. Na verdade, o ônus que impomos a nós mesmos ao renunciar à censura é a responsabi- lidade de participar do debate. Pode- mos expressar contraopiniões, expor razões pelas quais a opinião contrária é errada, ofensiva e perigosa. Pode- mos ficar contrariados e revoltados, organizar uma oposição, ignorar ou repudiar um interlocutor ou usar o humor para aliviar a dor. Também podemos ouvir, refletir, reconside- rar e perdoar. Dizer que não podemos proibir a expressão é, de certo modo, fácil. Dizer o que vem em seguida é difícil – muito, muito difícil. E esta é a questão: o modo de lidar com ideias, comopiniões e pontos de vista na miríade de maneiras que se apresentarão a vocês irá determinar quem vocês são. É um processo que nunca vai ser completamente resol- vido. É complexo demais para regras ou diretrizes claras. Vocês vão come- ter muitos erros. Vão sentir vergonha ao olhar para trás. Ou orgulho – e a esperança de poder reproduzir o que fizeram antes. Vocês serão firmes em suas convicções, mas abertos a outras perspectivas? Corajosos ao enfrentar omal, ou fracos emedrosos? Capazes de mudar de opinião quando a evi- dência e a razão assim o exigirem? Ou teimosos e míopes sobre coisas de que simplesmente não gostam ou que não podemrefutar? Em tudo isso, vocês vão compor quem vocês são. Nesse ambiente aberto, criado – aliás, criado para esse fim – pela Primeira Emenda para a sociedade, e pela uni- versidade para vocês e para a busca da verdade. Essa é a melhor justifica- tiva que temos para nossa posição de não censura na vida. Somos lançados às águas profundas da vida e temos a oportunidade de sermos melhores na hora de lidar comomundo como ele é. Prazer da descoberta Gostaria de dizer duas últimas coisas. A primeira é que, ao lidar com tudo isso, vocês deviam ter emmente algo sobre nós mesmos, sobre a natureza humana, algo que a maioria daqueles que estudaram esse assunto concluí- ram: que não somos naturalmente dis- postos a ter amente aberta, a ser tole- rantes, a querer escutar ideias alheias, contrárias a nossas próprias convic- ções e opiniões. Nosso instinto é preservar nosso próprio jeito de pensar, seja lá qual for. Podemos evitar o discurso do outro. Preferimos nos relacionar comgente que reforça nossa própriamaneira de pensar e tememos a incerteza de não saber emque ou como acreditar. Isso não significa que tudo aquilo em que vocês acreditam hoje ou no futuro é supostamente errado. Significa ape- nas que é preciso sempre refletir com cuidado e questionar a própria reação. A segunda, e última coisa, é a seguinte: no mundo universitário, nossa busca intelectual básica enfa- tiza hábitos mentais que, a nosso ver, aumentam a probabilidade de desco- brirmos novas ideias e novas verda- des. Damos ênfase à capacidade de conter crenças, de abraçar o auto- questionamento, de sentir prazer em descobrir que estávamos errados, de gostar de saber o que não é verdade como umpasso a mais rumo à desco- berta daquilo que é verdade, de ser- mos articulados sobre ideias, de gos- tar da complexidade e de usar a razão ciente de seus limites. Temos todas essas qualidades, de forma extre- mada, e sabemos disso. De certo modo, é algo que nos torna inade- quados para o mundo lá fora. Pedi- mos, no entanto, que enquanto esti- verem aqui vocês se juntem a nós nessas qualidades especiais do inte- lecto. Talvez seja sua única chance na vida de enxergar o que é possível fazer com elas em mente. Nos próximos anos, vocês irão fazer amigos, encontrar amores, se diver- tir. Mas, acima de tudo, vocês irão se tornar a pessoa que escolherem ser nessametrópole de ideias sempre agi- tada, sempre desperta e sempre enga- jada que é a Columbia University na cidade de Nova York. Bem-vindos à nossa casa. ■ lee c. bollinger é reitor da Columbia University, professor e advogado especialista na Primeira Emenda da Constituição americana. Texto publicado no site da Columbia University (http://news.columbia.edu/) em 29 de agosto de 2016. Não somos naturalmente dispostos a querer escutar posições contrárias a nossas convicções. Temos o instinto de preservar nosso jeito de pensar
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