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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 61 A Guerra do Paraguai Luiz Octavio de Lima Planeta, 2016 432 páginas A guerra que o Brasil insiste em esconder Também em quadrinhos do que o repórter concluiu após o tiroteio equilibrado: “Por mais que o jornalismo seja ‘o que eles disseram que viram’, ele tam- bém é ‘o que eu vi’. O jornalista deve empenhar-se em descobrir o que acontece e relatar, e não tornar a verdade neutra só por- que houve distribuição igualitá- ria de espaço”. O texto, de 2011, destaca um tema cada vez mais evidente pa- ra estudiosos e profissionais do jornalismo, o “esgotamento do outro lado”. O que Sacco pro- põe, antecipa em cinco anos a declaração de Martin Baron, premiado diretor do Boston Globe e personagem do filme Spotlight , hoje no Washington Post , para quem jornalistas de- vem expor sua conclusão além do cruzamento de versões: “É essencial que, no final, tenha- mos algo a dizer, temos de che- gar a um ponto e indicá-lo de modo mais enfático” (confor- me disse à Folha de S.Paulo , em 10/10/2016). No tempo do jornalismo “mul- tiplataformas”, o velho quadri- nho ganha relevo. ■ A GUERRA do Paraguai é um ca- pítulo propositalmente desco- nhecido da história do Brasil. Pa- rece que os sucessivos regimes, do Império até hoje, sempre ti- veram medo de deixar surgir a verdade. Até poucos anos atrás, era proibido pesquisar docu- mentos oficiais sobre o conflito. Isso cria situações esdrúxulas, como o culto oficial a persona- gens destacados do período sem que a origem de sua notorieda- de seja conhecida. Devemos ad- mirar oDuque de Caxias, mas não aprender como ele foi o principal responsável pela virada do jogo, das diversas derrotas iniciais à vi- tória final, ao organizar o Exér- cito nacional, que inexistia até o início da guerra. Mais estranhos ainda, para quem não conhece a história, são nomes de rua como BartolomeuMitre, Voluntários da Pátria, Almirante Tamandaré, Al- mirante Barroso, General Osório, Cerro Corá etc. Maior conflito em que os qua- tro países se envolveram (Brasil, Argentina e Uruguai, de um la- do, Paraguai de outro) em toda a sua história, a Guerra do Pa- raguai foi responsável por uma imensa migração interna dentro do Brasil, quando brasileiros de todos os cantos seguiram para a frente de guerra e nunca mais voltaram a suas cidades. Assim como provocou a criação do Exército nacional, o conflito deu ao Brasil o Mato Grosso do Sul e a percepção real de que havia um país chamado Brasil. Jornalista, não historiador, como ele prefere, Luiz Octavio de Lima produziu uma ampla e detalhada reportagem sobre a guerra, conhecida nos países aliados Uruguai e Argentina co- mo Guerra da Tríplice Aliança, no adversário Paraguai como Guerra contra a Tríplice Alian- ça ou Guerra da Tríplice Infâmia. O livro começa por nar- rar a biografia do comandante paraguaio Francisco Solano López, um ditador como tan- tos outros da história do Brasil e seus vizinhos, que em nossos livros de história é apresentado como um Hitler guarani. Ao longo das mais de 400 páginas, o leitor terá uma des- crição detalhada sobre os epi- sódios e personagens, nar- rada em estilo jornalístico. Ao final, faz um balanço do des- tino de personagens cruciais ao fim da guerra e do destino das nações. ■ A GUERRA do Paraguai é te- ma de dois estudos do pesqui- sador André Toral particular- mente interessantes para jorna- listas e quem gosta de quadri- nhos: Adeus, Chamigo Brasileiro (Companhia das Letras, 1999) é uma história da guerra em qua- drinhos; Imagens em Desordem (lançado em 2001 pela edito- ra Humanitas em parceria com a Universidade de São Paulo) é um estudo sobre as imagens da guerra publicadas na imprensa. As duas obras são trechos da tese de doutorado de Toral na USP, que se dividia nas duas partes. Toral é um versátil estu- dioso de humanidades e artista plástico. Formou-se emAntropo- logia, também na USP, dedicou- -se ao trabalho de campo com ín- dios do Centro-Oeste, depois mi- grou para o estudo da história no doutorado e passou ao ensi- no de estética. Imagens em Desordem tem uma forte relação com o jorna- lismo, pois a Guerra do Para- guai foi o primeiro conflito fo- tografado da história de seus contendores. ■ Imagens emDesordem André Toral Humanitas, 2001 216 páginas Adeus, Chamigo Brasileiro André Toral Companhia das Letras, 1999 128 páginas Reportagens Joe Sacco Quadrinhos na Cia, 2016 200 páginas REPRODUÇÃO REPRODUÇÃO

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