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62 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2016 LIVROS Reporting on Road Safety: A Guide for Journalists Genebra: OMS, 2015 Atlantic PDF disponível em: https://goo.gl/rvyxd4 OMS ensina jornalistas sobre violência no trânsito UMA DAS EPIDEMIAS mais le- tais do planeta pode ser reduzi- da drasticamente com medidas baratas e mudança de hábitos: a violência no trânsito mata 1,2 milhão de pessoas por ano, prin- cipalmente em países pobres ou emergentes; os feridos são cer- ca de 50 milhões/ano, que pres- sionam os sistemas de saúde e empobrecem ainda mais suas famílias. Mas, se uma doença viral de menor impacto pode causar verdadeira febre de no- tícias, as mortes no trânsito não impactam jornalistas e, por isso mesmo, a opinião pública. A Organização Mundial da Saúde produziu um guia para convencer jornalistas sobre a gravidade dessa tragédia mun- dial e a importância de uma co- bertura constante para abrir os olhos da opinião pública. O vo- lume é resultado do trabalho com 1.300 jornalistas em to- do o planeta e traz depoimen- tos de vários deles sobre co- mo convenceram seus editores e o enfoque dos trabalhos que produziram. Desde 2011, a Organização das Nações Unidas move uma campanha mundial para redu- zir as fatalidades à metade até 2020. Para isso, os países têm adotado medidas como redução de limites de velocidade, cam- panhas contra beber e dirigir, proibição do uso do celular ao volante, uso de cinto de segu- rança e capacete. No entanto, como se viu em São Paulo na úl- tima eleição, não é fácil conven- cer as pessoas sobre a eficiên- cia dessas medidas. É difícil en- tender a ciência por trás da re- dução de acidentes de trânsito. Ao longo de 60 páginas, o guia ajuda os repórteres a evi- tarem vícios como tratar co- mo “acidentes” as tragédias no trânsito e a mostrarem a gravi- dade de suas consequências e a simplicidade das medidas toma- das nos países onde ocorreram quedas do número de vítimas. ■ REPRODUÇÃO REPRODUÇÃO UmNazista emCopacabana Ubiratan Muarrek Rocco, 2015 350 páginas NÃO HÁ NADA DE ÓBVIO em Um Nazista em Copacabana , segun- do romance de Ubiratan Muar- rek, lançado nove anos depois do primeiro, Corrida do Mem- bro (Objetiva). Não é um livro sobre o nazismo, nem sobre Co- pacabana, como sugeriria o tí- tulo. O personagem referido no nome da obra, Otto Funk, fugiu da Alemanha em 1947 e veio para o Brasil, onde viveu e mor- reu. Sua história é narrada pe- las memórias da viúva, Jurema, e da filha, Diana, quando de seu reencontro. Diana foge para o Rio às vés- peras de ter o primeiro filho e procura a mãe, como Otto fu- giu da Alemanha décadas antes para encontrar a mesma mu- lher. Ele escapava do passado nazista. A filha tenta se afastar do escândalo em torno do ma- rido, Delúbio, envolvido em um caso de corrupção na cidade de São Bernardo (SP). Mas tampou- co é uma crítica velada à crôni- ca política brasileira e às irre- gularidades envolvendo o PT na Presidência da República. No li- vro, isso é quase só um detalhe. São muitas as coincidências entre pai e filha que servem de armadura para o autor traçar um retrato do Brasil em duas gerações. Um país em que o destaque dado na imprensa pa- ra um acusado de corrupção po- de fazer com que as pessoas pe- çam seu autógrafo na rua: “Eu estou famoso agora”, ele pode- rá dizer com orgulho. E onde um nazista pode morrer anôni- mo depois de ondular por déca- das em Copacabana. Muarrek é um jornalista pau- lista, com passagens pelos gru- pos Folha e Estado e mestrado na London School of Economics, quando mergulhou na era digi- tal. Seu primeiro livro, Corrida do Membro , era uma espécie de crônica da vida sexual de pes- soas maduras. Ao longo dos no- ve anos posteriores, o escritor amadureceu e compôs um ro- mance com estrutura mais com- plexa e personagens que fazem bem mais do que os membros do primeiro livro. Talvez porque santo de casa não faça milagre, o tratamen- to da crítica à obra foi bem de- sigual. Veja o classificou de “im- perdível”; o carioca O Globo pu- blicou uma resenha elogiosa, pontuada com declarações do autor. No entanto, de modo ge- ral, a imprensa paulista ignorou a obra. Pode-se gostar ou não do romance, mas é inegável que ele tem bossa. As hábeis meta- linguagens (como começar o li- vro com sotaque carioca e ter- minar com mineiro) são apenas um dos temperos que fazem o texto merecer a leitura. ■ Ubiratan Muarrek faz retrato irônico do Brasil contemporâneo
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