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60 JANEIRO | JUNHO 2017 REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 61 para conquistar amaior fatia. Essa é a história da ascensão da Amazon.com, e Bezos está aplicando muitas das mesmas lições ao Post (além da obsessão com o tráfego na rede e indicadores de engajamento, que têm muito mais importância lá dentro do que se o jornal dá ou não dinheiro). O Post , emparceria como Google, tambémcorreu para garantir que seu site mobile suba notícias mais depressa, na tese (anátema para repórteres) de que o leitor vai se decidir por esse ou aquele meio com base, em parte, na rapidez com que carrega notícias. Outra ferramenta na empresa, uma agenda digital, persegue automaticamente repórteres que não cumprem o deadline. A dupla que Bezos escolheu para tocar isso tudo não podia ser mais inusitada. Shailesh Prakash, o diretor de informação do jornal, é um tecnólogo à moda antiga que já passou pela Microsoft e pela Netscape e tinha zero de experiência em comunicação antes de entrar no Post , cinco anos atrás. Corporativo (calça cáqui e camisa social) e convencional – pelo menos na aparên- cia –, Prakash é tudo o que seu parceiro da área de tec- nologia no Post , Joey Marburger, não é. Diretor de produto, Marburger foi apelidado pelo site Digiday.com de o “punk rock star” do Post . É pelo piercing na orelha, óbvio, e por ter tocado baixo numa banda punk nos tempos de colégio. Marburger é o jor- nalista da dupla. Começou como editor de reportagens especiais no jornal da universidade (Purdue). Antes de ir para o Post , em 2010, trabalhou no Indianapolis Star e na Gannett. Hoje, Prakash eMarburger são os “caras” do digital no jornal. Os dois falam mais com Bezos do que qualquer outra pessoa da redação, incluindo Baron. Com isso, vira- ramfiguras fundamentais para o sucesso do Post daqui em diante. E são importantes também para o futuro dos jor- nais em geral, já que empresas de comunicação e edito- res nomundo todo cada vezmais veemno Post umexem- plo de reinvenção que está dando certo (ainda que auxi- liada pelo que, aos olhos da concorrência, deve parecer o inesgotável talão de cheques de Bezos). Prakash e Marburger receberam o diretor de redação e publisher da CJR , Kyle Pope, na redação do Washing- CJR: Voltemos um pouco à relação que isso tem com a questão do modelo de negócios. O problema aqui é que um dos grandes entraves à ampliação do público é o tempo que leva para um texto carregar. Com essa tecnologia do mobile você melhora isso e atrai mais gente para o site. Mas e depois disso? SP: O resultado que isso terá ainda é uma questão aberta. O assinante vai pagar por umsite ultrarrápido? Os bloque- adores de anúncios vão parar de bloquear sites cujo tempo de espera é menor do que o habitual? São incógnitas. Mas tudo começa por provar e experimentar. E também tem um pouco de um modelo de negócios tangencial. Quanto outras empresas de comunicação vão nos pagar se pudermosmelhorar seu sitemobile de forma considerável, não só um pouquinho? Posso vender essa tecnologia para essas empresas? CJR: A ideia de que o leitor vai pagar mais por velocidade é curiosa. Vocês acham isso provável? SP: Acho que sim. Já ficou provado, repetidas vezes, que a velocidade importa. Em certos setores, como no varejo, a correlação é mais direta. Você pega um site e não muda nada, só a velocidade, deixa muito mais rápido. E vê que as vendas mudam. JoeyMarburger: Se estiver acostumado a ummonte de outros sites mobiles lentos, sobretudo de notícias, e vier para o nosso e for bem mais rápido, pode ser que você passe a visitar o nosso com mais frequência. E provavel- mente vai consumir mais conteúdo – o que os dados já Shailesh Prakash, diretor de informação do jornal, é um tecnólogo à moda antiga, com passagem por Microsoft e Netscape Joey Marburger, diretor de produto, é chamado de “punk rock star” e é o jornalista da dupla que toca a área de tecnologia ARQUIVO CJR/GREG KAHN ton Post para contar como convenceram repórteres e editores do impresso a pensar com a cabeça do digital e falar sobre onde o mundo jornalístico se encontra atu- almente na curva da inovação. O que segue é uma trans- crição editada da conversa. CJR: Há muita incerteza no setor sobre o modelo de negócios dos jornais. Vocês acham que já avançaram no sentido de resolver esse problema? ShaileshPrakash: Aprimeira coisa a aceitar é que até agora ninguémachou a resposta. E, se ninguémachou, então não vejo alternativa senão seguir provando e experimentando. CJR: Ou seja, fazer as coisas como sempre foram feitas está fora de questão. SP: Acho que sim. E aí vema outra pergunta que ouço – e é uma pergunta válida –, que é quanto vai custar essa expe- rimentação. Há como pagar? Ou é só porque o Bezos está dando o dinheiro? Primeiro, acho que há um erro na tese de que experi- mentar exige rios e rios de dinheiro. Não necessariamente. Peguemos um exemplo. Estamos fazendo uma parce- ria com o Google para um site mobile ultrarrápido. No momento, pouco menos de 10% do nosso tráfego vai para lá. Digamos que, a certa altura, vemos que a coisa não funciona, ou que precisa de muito mais investimento. Temos a opção de simplesmente parar tudo. Ninguém fez o tradicional “vamos bolar um plano maravilhoso, vamos contratar engenheiros, vamos mon- tar a coisa e, opa, não deu certo”. mostram –, demorar menos para virar assinante, consu- mir mais anúncios. E por aí vai. CJR: Vocês acham, então, que o consumidor de notícias no futuro vai decidir em que matéria clicar sobre a Hillary Clinton, digamos, com base na velocidade? Se topar com um monte de opções e sua experiência disser que o Washington Post é mais rápido, ele vai ler aquela? SP: Sim. E já vemos isso. Não sei se é uma opção consciente. Acho que é mais uma questão de não hesitar em clicar. CJR: Não consigo imaginar que essa visão seja popular na redação. JM: Bom, isso não muda em nada nossa estratégia edito- rial. Todo mundo é inundado de links e títulos de maté- rias. Mas nem sempre dá para saber como vai ser o texto ou se é o que você está procurando. Mas, se você abrir e for muito rápido, é mais provável que prove algo mais. Já se levar mais de três ou quatro segundos cada vez, você não vai nem clicar. SP: Foi o Bezos quem começou com isso. Ele disse que, quando a Amazon fez oKindle, eles não pensaram: “Vamos acabar com o livro e criar um jeito novo de ler livros”. A ideia deles foi: “Como preservar tudo o que há de fantástico em um livro e incluir também as maravilhas do digital?” Ele comentou que, quando você lê umjornal, a facilidade para folhear é muito maior do que na navegação digital. É o que ele chamou de “overhead” cognitivo. Logo, mui- tas das nossas escolhas no design têm o objetivo de redu- zir essa sobrecarga cognitiva. E a velocidade é um grande fator. Ninguémespera, quando abre um jornal, que vai ter de esperar. Está lá. É uma maravilha. É tranquilo. CJR: É uma ideia bem interessante que isso possa influenciar a visão que o público jovem tem da notícia, que é vista como algo maçante, antiquado. Será que tem a ver com o tempo que leva para baixar o texto? Isso nos leva ao sistema de gestão de conteúdo que ARQUIVO CJR/GREG KAHN
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