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76 JANEIRO | JUNHO 2017 REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 77 PARA LER e PARA VER LEÃO SERVA A imagem de Alex Webb (1979) registra a prisão de mexicanos que tentavam cruzar a fronteira dos EUA MAGNUM QUER DIZER grande, em latim. Foi essa palavra es- colhida por um grupo de jovens fotógrafos consagrados (e mui- to convencidos) para ser o no- me da agência que criaram em 1947. A ideia foi de Robert Ca- pa. Henri Cartier-Bresson, David “Chim” Seymour, William Vandi- vert e George Rodger toparam. Eles estavam na crista da onda, tinham saído da maior guerra de todos os tempos como os me- lhores do mundo. Não iriam mais ser emprega- dos, nem pagariam comissão a ninguém. Não fariam mais pautas que não gostassem, só Magnum faz 70 anos FOTOGRAFIA as que considerassem legais. E, quando quisessem fazer um projeto pessoal, a agência ga- rantiria o dinheiro para sua realização. O nome tem uma segunda explicação: adoravam champanhe, tanto que compra- vam garrafas maiores, chama- das “magnum”. Nunca mais te- riam que encanar com o preço. O sonho era tão mirabo- lante que, ao ser convidado, um dos fundadores, Rodger, topou, achando que era uma piada. Desde então, prati- camente todos os maiores repórteres fotográficos do mundo passaram por ela. Ou vão passar pela cooperativa. Comunista, Capa mantinha um regime de “centralismo democrático”: até morrer, em 1954, os novos sócios eram con- vidados por ele. Depois, essa in- dicação passou a ser votada pe- los sócios. No primeiro momen- to, o novato é contratado; de- pois, se a relação dá certo, vi- ra membro. Se tudo continua às mil maravilhas, pode chegar a sócio, para o resto da vida ou enquanto quiser. O brasileiro Sebastião Salgado, por exem- plo, ficou na agência 15 anos e saiu para montar o próprio es- critório. É raro. Nessa trajetória de 70 anos e 92 fotógrafos (hoje são 49 só- cios), todas as histórias mais im- portantes foram cobertas por gente da agência. Quem quiser conferir, o site oficial www.mag- numphotos.com está comemo- rando o aniversário com várias reportagens especiais, atuais e passadas, um site dedicado a homenagens, vendas de fotos e livros desse período, inclusi- ve primeiras edições de livros e fotos assinadas. E estão aconte- cendo diversas mostras em vá- rios lugares do mundo. Uma empresa desse tipo vi- ve tanto de fotos quentes quan- ALEX WEBB/MAGNUM PHOTOS/LATINSTOCK MARTIN PARR/MAGNUM PHOTOS/LATINSTOCK to do arquivo. O site reflete es- se equilíbrio entre fotos do pas- sado e recentes, sempre estu- pendas. É isso que faz com que mesmo os sócios que não foto- grafam mais ou nem estão en- tre nós sigam expondo e ven- dendo suas obras, rodando o caixa da empresa. No início de maio, a página da Magnum ti- nha coberturas quentes da elei- ção presidencial francesa ao la- do de uma cobertura “quente” da aposentadoria do príncipe Philip, da Inglaterra, toda com- posta de fotos produzidas ao longo das muitas décadas de seu papel de consorte da ra- inha Elizabeth. Mas nem tudo é festa nos 70 anos. O futuro da Magnum é in- certo como o de todas as em- presas de comunicação. Afinal, uma parte da equação que pa- ga o sonho de Capa depende da saúde dos “patrões”: a imprensa precisa comprar as coberturas que a agência faz. E, com a cri- Aniversário emboa companhia Principais eventos comemorativos Nova York • Exposição MagnumManifesto, de 26 de maio a 2 de setembro, no International Centre of Photography (ICP). Um livro com o mesmo nome foi lançado em 25 de maio. Londres • Magnum Photos Now, ciclo de palestras mensais organizadas em parceria com o centro cultural Barbican. Paris • Exposição Magnum: Analogue Recovery, com uma seleção de fotos do arquivo de 70 anos da agência, no Le Bal. • Magnum Photos Now, ciclo de palestras mensais realizadas no cinema MK2. Inclui a exibição de dois documentários sobre os 70 anos da agência, em 30/5 e 3/6 (http://www.mk2.com/recherche/Magnum) São Paulo • Exposição Henri Cartier-Bresson, retrospectiva de sua obra. Galeria do Sesi-SP (Av. Paulista, 1313), até 25/6. Outros eventos nomundo todo • www.magnumphotos.com/theme/ magnum-70-events/ se, as encomendas diminuíram. Por isso, a empresa tem de- batido o que será da fotografia, dos fotógrafos e dos seus arqui- vos. Em Londres, no fim de abril, aconteceu um encontro entre dois fotógrafos da agência para discutir que trabalho se pode fa- zer hoje em um mundo onde se publicammenos grandes repor- tagens como aquelas com que a a empresa estava acostumada. Os depoimentos foram interes- santes e reveladores: o francês Jérôme Sessini contou que ho- je se dedica a uma espécie de “pós-jornalismo”. Em 2014, Sessini fez uma co- bertura tradicional dos conflitos de rua na Ucrânia, entre nacio- nalistas ucranianos e russos ét- nicos: foi, passou uns dias, foto- grafou muito e voltou para ca- sa. Depois, como fazem os pro- fissionais da Magnum, avisou a agência que tinha um proje- to pessoal, iria morar uns me- ses no interior da Ucrânia para acompanhar a vida da popula- ção civil após a fase mais aguda dos conflitos. Na palestra, apre- sentou imagens das duas cober- turas, inteiramente diferentes. Para ele, a superação da crise da imprensa está em um jornalis- mo mais profundo, mais para os longos ensaios do que a publica- ção de reportagens efêmeras. Afinal, é isso que pode distinguir o grande profissional do ama- dor que estava passando pela Crimeia com seu smartphone. Outro sócio da Magnum, o alemão Thomas Dworzak, con- tou como começou a cobrir fa- tos quentes navegando no Ins- tagram e outras redes sociais. Tudo começou quando cobria a Olimpíada na Rússia e quis sa- ber como o nacionalismo russo encarava a figura do líder Putin. Depois, acompanhou o que pu- blicam os americanos encanta- dos com Trump, ou os que de- fendem o porte de arma, e as- sim por diante. A partir de um Foto datada de 1990, de Martin Parr, membro da agência Magnum fato quente, busca na web as fo- tos que pessoas postam inspi- radas por ele. Foi assim que re- tratou a estranha atração que adolescentes americanas ti- nham pelo jovem checheno que explodiu as bombas na Marato- na de Boston. Hoje, faz verdadeiros retra- tos psicossociais ao selecionar (ou “curar”, para usar a palavra da moda) grandes memes publi- cados por pessoas comuns. De- pois, faz um livro de uns poucos exemplares, que documentam o material. Ele não os vende. Em junho, um outro evento vai debater o futuro dos arqui- vos fotográficos em um mundo que parece cada vez mais devo- rar quantidades de imagens sem qualidade. A imprensa pode estar pas- sando mal, mas, a julgar pela intensidade de sua comemora- ção, a Magnum ainda vai poder abrir muitos champanhes de ta- manho gigante. ■
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