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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 11 O FIM DOS DOIS LADOS? os dias 12 e 13 de agosto marcaram novo estágio no debate sobre a ques- tão de garantir tratamento igual aos dois lados de um debate. A questão é se o princípio vale até quando parece claro que um deles representa o mal, como os movimen- tos neonazistas americanos que ater- rorizaram a cidade universitária de Charlottesville, Virginia, naqueles dias e mataram uma ativista liberal que se manifestava pacificamente pela reti- rada de estátuas locais de líderes con- federados da Guerra Civil americana. O presidente Trump reagiu aos incidentes dizendo que os dois gru- pos tinham “pessoas muito boas” e pessoas violentas, equiparando-os moralmente. Mas, como revelou um extraordi- nário documentário de Elle Reeve, do ViceNews, só os neonazistas estavam armados, pesadamente, e dispostos a um confronto físico extremo. As declarações do presidente pro- vocaram reação negativa até de mui- tos de seus aliados de partido e empre- sários. Mesmo Rupert Murdoch, o dono da Fox News, que apoia Trump incondicionalmente, discordou dele em público. Google e Twitter passaram a negar abrigo a publicações neonazistas, como The Daily Storm , que veiculava umvídeo para ensinar a atropelar ini- migos, como ocorreu com Heather Heyer, a vítima de Charlottesville. Visa e Mastercard cortaram rela- ções de negócios com grupos neona- zistas que eram seus clientes. O tema certamente não é simples. Quem traça a linha que separa o acei- tável do intolerável? Equando?Ocan- didato Adolf Hitler na Alemanha em 1932 deveria ter tido suas liberdades negadas nas eleições parlamentares? EocandidatoDonaldTrumpem2016? E Jair Bolsonaro em 2018? E a imprensa: quando pode ou deve escolher um lado e negar a alguémou a um partido o direito de expor suas ideias ao público? No caso específico de Charlottes- ville, pesquisas indicam que 56% dos americanos desaprovarama reação de Trump aos eventos ao igualar os dois lados em confronto. Para 42%, não se pode nunca equivaler neonazistas a seus oponentes (mas 35% dizem que às vezes é possível que sim). Estatisticamente, portanto, há nos Estados Unidosmaiorias contrárias à equiparação entre os dois lados, mas está longe de haver unanimidade. Em ambientes politicamente pola- rizados, é um assunto dificílimo. ■ Terrorismo neonazista nos EUA deflagra debate sobre liberdade País é o segundo que mais confia nos veículos jornalísticos carlos eduardo lins da silva é livre-docente, doutor e mestre em comunicação; foi diretor-adjunto da Folha e do Valor . ENQUANTO ISSO NO BRASIL... EM MEIO AOS SEGUIDOS FURACÕES de más notícias para a instituição da imprensa, no Brasil houve raro momento de celebração quando o Instituto Reuters para o Estudo do Jor- nalismo, da University of Oxford divulgou pesquisa quemos- tra que aqui os veículos jornalísticos gozam de credibilidade só inferior à da Finlândia no mundo. O Relatório de Jornalismo Digital 2017 também revela que as redes sociais vêm sentindo reflexos negativos da prolife- ração de notícias fraudulentas. Com isso, o Facebook e outras perdem prestígio em diversos países, inclusive no Brasil. Aqui, 57%dos entrevistados disseramusar o Facebook para acessar e compartilhar notícias, uma queda de 12 pontos Confronto entre neonazistas e ativistas liberais em Charlottesville em 12 de agosto JOSHUA ROBERTS/REUTERS/LATINSTOCK percentuais em relação a 2016. Merecemelogios e incentivo iniciativas que buscamampliar aindamais essa confiança da sociedade no jornalismo, como o projeto Credibilidade, que no Brasil é desenvolvido pelo Projor, criado por Alberto Dines e agora presidido por Angela Pimenta. O Credibilidade trabalha para produzir indicadores de cre- dibilidade jornalística tanto para usuários quanto para pla- taformas de distribuição de notícias. A partir de um conjunto inicial de 38 indicadores, o consórcio internacional destacou oito prioridades e as aplica para ajudar a melhorar a quali- dade da prática jornalística. ■

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