REVISTA_de_JO_ESPM 20

12 JULHO | DEZEMBRO 2017 DIRETO DE COLUMBIA por michael schudson a crítica de mídia nos Estados Uni- dos vem de muito tempo. Se não fosse pela edição cuidadosa de Alexander Hamilton, oúltimodiscursodeGeorge Washington como presidente conteria umataquepesadoaosjornaispelos“abu- sosperversos”cometidosporelescontra oprimeiropresidentedanação.Thomas Jefferson, tido pormuitos como o anjo daguardada liberdadede imprensa (ele tematémesmoumaestátuaemfrenteà Columbia JournalismSchool), não viu problema emtramar contraos jornalis- tas ao se tornar presidente. É verdade que em 1787 ele escreveu que preferia jornais semumgoverno a umgoverno sem jornais, mas durante seumandato disse que “o homem que nunca lê jor- nais estámais informado do que quem os lê, do mesmo jeito que alguém que nãosabecoisanenhumaestámaisperto da verdade do que alguémcuja cabeça está cheia de erros e mentiras”. Em outra ocasião, ele afirmou que os jor- nais deveriam ser divididos em qua- tro seções – Verdades, Probabilidades, Possibilidades e Mentiras –, embora temesse que a primeira delas acabaria sendo a mais curta. Conforme o número de jornais nos Estados Unidos cresceu ao longo do século 19, aumentaramtambémas crí- ticas a eles, mas essa crítica não per- tencia a umgênero ou a umpropósito específicos. Era só política mesmo. A maioria dos periódicos estava ligada a partidos políticos e eles costumavam atacar as publicações contrárias. Algu- mas vezes, o editor ultrapassava a linha editorial, atingindo o campo dos ata- ques pessoais, o que levou à realização de alguns duelos de pistolas. Lorotas e ceticismo Oséculo 19produziucríticas aosmeios de comunicação que ficaram famo- sas, feitas não por cidadãos ameri- canos, mas por visitantes europeus, céticos ou até mesmo desdenhosos da imprensa americana. Entre esses viajantes estavam Alexis de Tocque- ville, na década de 1830, e E.L. Godkin, um imigrante irlandês que foi o editor fundador da revista americana sema- nal de opinião Nation (em circulação até hoje). Em 1869, Godkin atacou as novas técnicas de entrevista, que ele considerava “a mistura das lorotas de um político enrolador com as lorotas de um repórter”. Nas primeiras décadas do século 20, alguns jornalistas que também ocu- pavam a posição do que poderíamos chamar de “intelectuais públicos” opi- naramsobre os problemas desse novo negócio. Omaior nome entre esses crí- ticos foiWalter Lippmann, que consi- derava o jornalismo emúltima análise algo semconformação – ele não tinha meios de dar ao público o necessário para transformar os leitores em cida- dãos bem-informados. Os jornalistas teriam que aprender a se virar com o que Lippmann chamou de “obser- vatórios políticos” para reunir dados robustos: think tanks , universidades e órgãos do governo. Se não aprovei- tasse esses recursos, a imprensa nunca faria um bom trabalho. Em 1940, o repórter George Sel- des fundou uma newsletter semanal chamada In Fact , que ele afirmava ser “o antídoto contra as mentiras da imprensa diária”. A In Fact circu- lou durante uma década. Como mui- tos críticos dos meios de comunica- ção depois dele, Seldes acreditava que o maior inimigo da verdade na imprensa era a exploração comercial de boa parte da mídia por seus pro- prietários. Ele escreveu sobre o perigo do cigarro para a saúde, um assunto que segundo ele os jornais america- nos deixavam de lado por causa dos numerosos anúncios de cigarros que financiavam suas edições. A In Fact não teve a repercussão nem o alcance de A.J. Liebling. Ele foi, provavelmente, o primeiro jor- nalista americano a ser amplamente reconhecido como crítico de mídia. Liebling escreveu para a New Yorker da década de 1930 até os anos 1960 e é lembrado até hoje pela sua frase “A liberdade de imprensa só é garan- tida aos donos do jornal”. O foco dessa narrativa sobre a busca pelo lucro que Não é de hoje que se faz crítica de mídia nos EUA, mas as análises estão cada vez mais sofisticadas Mais e melhor

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