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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 13 corrompe a procura pela verdade con- tinuou na crítica de outros jornalistas que vieram depois de Seldes e do sar- cásticoLiebling. BenBagdikian, repór- ter criativo emais tarde diretor daUC Berkeley Graduate School of Journa- lism, publicou TheMediaMonopoly em 1983, documentando e denunciando a concentraçãoda propriedadedemeios de comunicação. Ele atualizou seu tra- balho em várias edições ao longo dos 20 anos seguintes. Revistas de jornalismo A crítica de mídia foi um elemento importante na revolução cultural da década de 1960. Na vanguarda desse movimento estava o lançamento da Columbia JournalismReview em 1961, financiada pela Columbia Journalism School. Ao longo dos anos 60 e 70, ela seria seguida por várias revistas de jor- nalismo,conformeadenúnciadosmeios de comunicação se tornava parte da revolta de uma geração, que avançava pelopaís e chegava até as redações. Em 1968, foi lançada a Chicago Journalism Review . JamesBoylan, oeditor original da Columbia JournalismReview , disse anos depois que a equipe de Chicago pegou emprestada a expressão “Jour- nalismReview”, mas deixou de lado o conteúdoeoestilodeColumbia, queera considerado“umpoucosérioeburocrá- tico, pra ser sincero”. A revista de Chi- cago era “umfórumaberto e dinâmico de discussão e crítica”, explica Boylan, emsintonia como espírito de rebeldia dos anos 1960. Ela inspiroua criaçãode mais revistas de jornalismo em várias outras cidades nos Estados Unidos. Amais importante delas foi a More . Fundada em1971, tambémorganizava anualmente a “Contra-ConvençãoA.J. Liebling”, na mesma época em que a AmericanNewspaperPublishersAsso- ciation realizava seu evento. A convo- cação para a primeira dessas reuniões em 1972 analisava a imprensa diária, afirmando que ela era um sistema que ainda “valorizava a estenografia e desestimulava a inovação”. De acordo com a More , era importante que os jornalistas estivessem livres da cen- sura e da interferência arbitrária das chefias da mesma forma que as che- fias estivessem livres da censura e da interferência do governo. A crítica dos meios de comunica- ção organizada por jornalistas seria complementada na década de 1970 pelas análises acadêmicas. Enquanto o pessoal da redação se concentrava nas disputas entre os corajosos repór- teres contra os gananciosos proprie- tários dos meios de comunicação, os acadêmicos se interessavam mais pelos valores cultivados nos rituais e protocolos das redações. Em 1976, a socióloga Gaye Tuchman escreveria um texto que ficou famoso, em que afirmava que a “objetividade”, um ideal valorizado entre os jornalistas, era um “ritual estratégico de defesa”, uma maneira de o repórter se prote- ger dos ajustes dos editores, das críti- cas dos leitores e das ameaças de pro- cessos. Tuchman, assimcomo outros, sustenta que os rituais da objetividade jornalística fomentavamuma postura de “ele disse/ela disse”, um compor- tamento de não interferir emnada do que o entrevistadodeclarasse ao repór- ter. Como amaioria das fontes dos jor- nalistas era composta demembros do governo, ou então de candidatos dos grandes partidos, isso levava a umviés “governista” ou “de establishment”. Ou seja, ao tentar produzir notícias sem nenhumviés, os jornalistas já estavam tomando partido. Isso só poderia ser superado commais investimentos em uma apuração “investigativa” ou “ino- vadora”, commais abertura ao jorna- lismo “analítico” ou “interpretativo” – mais vulnerável às acusações de par- tidarismo, mas menos manipulável pelas fontes oficiais. A década de 1970 viu nascer as organizações de fiscalização dos meios de comunicação nos Estados Unidos. Isso começou comos conser- vadores, com sua Accuracy inMedia (AIM) em 1969. Em 1986, críticos de mídia progressistas fundaram a Fairness and Accuracy in Repor- ting (FAIR). Antes disso, já em 1967, alguns jornais americanos nomearam seu ombudsman, inspirados no con- ceito sueco, para responder no pró- prio diário às críticas e reclamações dos leitores, às vezes para concor- dar com elas, outras para defender a publicação. Os ombudsmans por sua vez, criaram a Organization of News Ombudsmen (ONO) em 1980. Cenário ampliado A crítica de mídia oriunda da acade- mia continua a ser produzida com a contribuição de cientistas políticos, sociólogos, jornalistas e pesquisado- res das escolas de jornalismo. Os estu- dos de jornalismo foram reconheci- dos tanto como um campo de pes- quisa acadêmica quanto como uma área da comunicação nos últimos 30 anos. Acadêmicos, jornalistas e outros profissionais fazem comentários e análises de notícias em publicações acadêmicas, blogs, em artigos para o site da Columbia Journalism Review (cjronline.org) oupara oNieman Jour- nalismLab (niemanjournalismlab.org ) e para outros portais. O nascimento de um movimento de “checagem de dados”, que começou em 2003 com o FactCheck.org, garante a veracidade de declarações feitas por candidatos nas eleições, mas também pode aju- dar os portais de notícias com dados mais precisos. Em uma democracia, todos devem fazer a crítica da comunicação. Os pró- prios jornalistas são os mais capacita- dos para isso porque eles sabemcomo as notícias são feitas; amaioria das pes- soas não temmuita ideia do tipode tra- balho que existe por trás das matérias publicadas pelos repórteres e seus edi- tores. Commais conhecimento do jor- nalismo, os cidadãos podem ser críti- cos cada vez melhores. ■ michael schudson é professor de jornalismo e sociologia (docente associado) na Columbia University. Publicou, entre outros livros, The Rise of the Right to Know (A Escalada do Direito ao Conhecimento) e, com C.W. Anderson e Leonard Downie Jr., The News Media: What Everyone Needs to Know (A Imprensa: O Que Todos Precisam Saber).

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