REVISTA_de_JO_ESPM 20
16 JULHO | DEZEMBRO 2017 Em países com histórico de repressão, o ombudsman é valorizado por desempenhar o papel de agente da democracia ditas organizações de checagem. Mas essesgruposcostumamagireminteresse própriooupartidário, a serviçodeuma causaespecífica, e simplesmentedizem aos seus leitores onde reclamar sobre determinado problema”. A manuten- ção da figura do ombudsman em uma organizaçãode imprensaéumcompro- missopúblicode responsabilidade por seu trabalho. Issodeveria serumaparte fundamental da prática do jornalismo. Maisdeumavez, aoresponder recla- mações, já fui desafiada aprovarminha independência – já que sou paga pela mesma organização que devo moni- torar. Em alguns lugares existe uma pressão para abafar as críticas, que pode sermaior oumenor dependendo de onde estamos. Porém, comomem- bros da empresa, a verdade é que os ombudsmans podem exigir respos- tas das pessoas que tomam as deci- sões do negócio. Isso quer dizer que, como jornalistas experientes, nós tam- bém sabemos que perguntas fazer e onde procurar respostas. Comomem- bros de uma redação, às vezes temos o papel de educar a equipe e lembrá- -la dos padrões que ela deve manter. Valor reconhecido Nem tudo está perdido. Em muitos lugares a importância e o valor da res- ponsabilidade e da transparência são reconhecidos. Infelizmente não exis- temmuitos dados, mas há cerca de 30 ombudsmans na AméricaCentral e na América do Sul. NoMéxico, por exem- plo, cadavezmais os órgãospúblicosde comunicação estão criando cargos de ombudsman. Enquanto isso, emreda- ções privadas a posição já está prevista até em estatutos. Na América do Sul, existem“defen- sores públicos da audiência”, que têm funções semelhantes às dos ombuds- mans. Em países que passaram por ditaduras, com limitações à liber- dade de imprensa, a função é cada vez mais valorizada. É um reconheci- mento de que a liberdade de imprensa deve estar acompanhada de respon- sabilidade. O cargo, não importa seu nome, é fundamental para elevar os padrões do jornalismo, ao respon- der às críticas do público e também ao implementar e desenvolver dire- trizes éticas. Isso fica claro em vários países do Leste Europeu, que ainda estão cons- truindo suas instituições após ocolapso do bloco comunista. Na Eslovênia e na República Tcheca, as emissoras públicas têm ombudsmans. Tarmu Tammerk, o ombudsman da emissora pública da Estônia, mantém contato com veículos que recorreram à Orga- nization of News Ombudsmen em busca de orientação para criar seus cargos. “Já participei de discussões sobre isso em países como Moldova, Ucrânia, Letônia e Lituânia”, explica Tammerk. Veículos em vários outros países têmombudsmans. Outros cria- ramo cargode editor de qualidade, que define padrões e orienta a equipe. O princípio que está por trás dessemovi- mento é que a criação de normas cla- ras é necessária para a ética e a exce- lência da prática do jornalismo. Em países que valorizam a liber- dade de imprensa por causa damemó- ria coletiva de repressão, há o pen- samento corrente de que o ombuds- man pode desempenhar um papel de agente da democracia. A ONO tem membros em todos os continentes – com exceção da Antár- tida. Nos últimos anos, recebemos membros da África, da Ásia e da Amé- rica do Sul. Como um sinal dos novos tempos, a conferência anual da orga- nização este ano vai ser realizada em Chennai, na Índia. Enquanto a função perde força nos Estados Unidos e no Canadá, ela se torna mais importante em outras partes do mundo. Confiança dos leitores Em 2016, o Dicionário Oxford decla- rou “pós-verdade” a palavra do ano. A sua definição é: “Circunstâncias em que fatos objetivos são menos rele- vantes que o apelo emocional e con- vicções pessoais para a formação da opinião pública”. Quer uma prova? É só olhar para a quantidade de notí- cias mal apuradas e mal escritas no seu feed do Twitter. Oprincipal papel do jornalismo é fornecer informação precisa de maneira isenta aos cida- dãos, para que eles possamtomar deci- sões conscientes. É um elemento crí- tico para qualquer democracia. Con- forme as redações dão as costas para uma posição que serve para garantir um padrão de qualidade, elas abrem mão de uma responsabilidade impor- tante. Ter umombudsman não vai res- taurar a confiança do público nas notí- cias – existemmuitas sutilezas emui- tas nuances nessa questão. Mas é um sinal de compromisso coma excelên- cia. Agora é a hora de assumirmos esse compromisso. ■ esther enkin é presidente da Organization of News Ombudsmen and Standards Editors (ONO) e ombudsman da Canadian Broadcasting Corporation (CBC). C M Y CM MY CY CMY K
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