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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 25 Ao Dines, com carinho Ex-reitor da Unicamp relembra episódios que levaram à criação do Observatório da Imprensa por carlos vogt em uma tarde de 1993 , na Univer- sidade Estadual de Campinas (Uni- camp), recebi, por intermédio de Luiz Schwarcz, a notícia – depois con- firmada por José Marques de Melo – de que Alberto Dines queria falar comigo sobre um projeto de criação de umprograma de jornalismonaUni- camp, universidade de que eu era rei- tor, na ocasião. Dines estava em Portugal e tinha vindo ao Brasil, um pouco antes, no ano anterior, para um tratamento de saúde, tudo isso envolvendo, além de outras atividades, sua pesquisa e a pro- dução de seu trabalho fundamental sobreAntônio José da Silva, publicado em livro com o nome de Vínculos e Fogo (Companhia das Letras, 1992). Dines, como ele próprio relata, pas- sava as manhãs de Lisboa prisioneiro de seu projeto na Torre do Tombo, à tarde, ia para a Editora Abril e, à noite, lia e escrevia, trabalhando o mate- rial que sua pesquisa ia organizando. Abolsa da FundaçãoVitae estava pres- tes a terminar, e o trabalho na Abril permitia-lhe esticar a estada e dava- -lhe, então, condições para seguir adiante com os estudos e as investi- gações para a obra sobre o autor bra- sileiro do teatro português no século 18, morto ainda jovem, queimado, num auto da fé da Inquisição, com apenas 34 anos, em 1739. Interesses comuns Fizemos o contato, Dinesme escreveu e eu, que tinha uma viagem progra- mada para Paris, combinei comele de passar por Lisboa, na volta, para con- versarmos e, eventualmente, avançar- mos coma ideia da criação de umpro- grama emesmo de umcentro de estu- dos em jornalismo. Anos antes, quando Paulo Renato Costa e Souza era reitor da Unicamp e eu seu vice-reitor, chegamos a tratar, nauniversidade, comClaudioAbramo, então editor da Folha de S.Paulo , de um projeto de curso de pós-gradua- ção em jornalismo, que acabou não se concretizando. Havia, pois, uma disposição da universidade para um empreendi- mento dessa natureza que vinha, enfim, encontrar-se comDines e com a ideia inovadora e precursora que ele alimentava, preparando também, no fundo, a sua volta ao Brasil, no período pós-Fernando Collor e no cenário dos tempos melhores que o governo de Itamar Franco e, depois, de Fernando Henrique anunciavam. Cheguei a Lisboa e fui recebido pela Norma Couri e pelo Dines com uma simpatia, um carinho e uma acolhida tais que a sensação que compartilha- mos era de velhos amigos com sau- dades de não ter se conhecido antes. Norma, que estava emLisboa como correspondente do JB , e Dines hospe- daram-me numhotel maravilhoso na rua das Janelas Verdes, cujo nome, se bemme lembro, reportava à sua pró- pria localização. Passeamos, comemos bem, tomamos bons vinhos, fomos a Cascais e a Sintra e paramos no Canto 3 d’ Os Lusíadas , de Luís deCamões, no Cabo da Roca, “aqui(...) onde a terra se acaba e o mar começa”. Tiramos fotos e seguimos emba- lados, pelo fim de semana de azul e luz, nas conversas sobre os planos de criação do que viria a ser, em 1994, o Laboratório de Estudos Avançados emJornalismo, o Labjor, daUnicamp; depois, em 1996, tambémberçário do Observatório da Imprensa , cuja infân- cia, adolescência e idade adulta sem- pre tiveram em Dines a referência segura, criativa e constante, na cons- tância de sucesso de sua trajetória. ■ carlos vogt é professor titular na área de semântica argumentativa e coordenador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), da Unicamp, onde foi reitor de 1990 a 1994.
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