REVISTA_de_JO_ESPM 20
28 JULHO | DEZEMBRO 2017 da imprensa lutavampara sobreviver e garantir seus empregos nos espaços (em refluxo) do “jornalismo revolu- cionário”, a imprensa diária. Jovens jornalistas, saídos das faculdades, eram atraídos pela chama do jorna- lismo de denúncias e combate a qual- quer modalidade jornalística prati- cada sob a égide do “imperialismo”. A referência era o jornalismo empre- sarial, “coisa do poder econômico, das empresas capitalistas”. Nos espaços de formação de opinião, a discussão acirrava a dicotomia do mundo de bons e maus, oprimidos e opresso- res, esquerda e direita. Nas cama- das intelectuais, o discurso separava os “antiquados” e os “modernos”, os “apocalípticos” e os “integrados”, na perspectiva descrita porUmbertoEco para definir contingentes inseridos na moderna comunicação de massa e seus opostos. Ser assessor da imprensa, na época, equivalia a ter estampado na testa o selo “vendido aos capitalistas”. Diante dessa moldura, como profes- sor iniciante na ECA, tive a ousadia de enfrentar o “paredão da morali- dade”, ou seja, a bateria de preconcei- tos contra o capital. A clivagem ide- ológica respirava padrões antigos: a luta de classes. As relações capital- -trabalho se apresentavam como um jogo de soma zero, com a vitória de umempatando comamorte do outro. Parceria e integração eram verbetes abolidos das páginas da negociação coletiva. Os manuais de trabalhado- res e empresários continham alfabe- tos opostos. Era, portanto, um desafio inima- ginável alguém da área acadêmica optar por um exercício reflexivo na área das “empresas capitalistas”, sobretudo quando a reflexão abar- cava o terreno da comunicação, e, pior, quando esta ocorria na esfera do maior centro de produção cien- tífica do país, um polo da excelência do pensamento, a USP. Fui em frente. Criamos a disciplina de assessoria de imprensa. E, logo depois, a de jorna- lismo empresarial. Alguém dizer na universidade que trabalhava em jor- nalismo empresarial era demonstrar que estava “vendido ao capitalismo internacional”. Foi assim que conso- lidamos na USP o estudo da comuni- cação organizacional. (Hoje, o mercado de assessoria de imprensa concentra mais de 70%das oportunidades de trabalho para jor- nalistas. Trata-se da maior emprega- dora domercado jornalístico, atraindo tanto recém-formados como profis- sionais experientes, saídos das reda- ções em função da crise que abala os grandes veículos.) Se a escolhapelo jornalismo empre- sarial enfrentava dúvidas quanto à importância desse tipo de atuação, a opção pelo mesmo campo como objeto de estudo acadêmico trouxe reações virulentas. Nos anos 1970, como frisei, o jornalismo empresa- rial era indissociável de tendências ideológicas. Jornalismo na Proal Quem nos ajudou nesse desafio foi a Proal, na qual desenvolvia minha atividade jornalística em paralelo ao magistério na USP e na Cásper. A prá- tica no campo do jornalismo empre- sarial impunha questões diferencia- das da prática na grande imprensa. Nos veículos empresariais, o desafio era encontrar uma forma de levar um conteúdo hermético para umpúblico leitor de diferentes padrões culturais. As tentativas de solucionar esse desa- fio renderam bons frutos. A saída para levar os assuntos mais complexos ao heterogêneo público Ser assessor de imprensa nos anos 1970 equivalia a ter estampado na testa o selo “vendido aos capitalistas”
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