REVISTA_de_JO_ESPM 20

38 JULHO | DEZEMBRO 2017 seção de cartas era tratada com a mesma seriedade que os leitores dedi- cavamà revista, sempre comentando, discutindo, concordando ou não com asmatérias, nos enviando palavras de incentivo, quase sempre elogiando e louvando os assuntos abordados. Era uma editoria a mais, com deba- tes que traziam novas informações. Não temos mais documentos para afirmar quantos assinantes a revista teve. Erammuitos. E, quando foi deci- dido pelo fechamento da publicação, todos eles receberam cheques nomi- nais com valores correspondentes às edições que já tinham garantido em suas assinaturas e que não iriammais ser publicadas. Foi uma enxurrada de lamentações pelo fim da revista e o agradecimento pela ação da pequena editora em devolver o valor corres- pondente nem que fosse de apenas mais uma edição. A revista trazia artigos e repor- tagens de profissionais renoma- dos (Alberto Dines, Hugo Estens- soro, Gabriel Priolli, Sérgio Augusto, entre outros), e de pessoas que como eu começavam na carreira de jorna- lismo. Havia dentro daquele casa- rão da Vila Mariana, em São Paulo, um clima de dedicação e envolvi- mento que alimentava a importân- cia do nosso trabalho. O debate continua Para falar da Crítica da Informação , não existe melhor maneira do que esta: destacar o que nela foi discutido, apresentado, previsto. Um cardápio como este de uma revista lançada há 35 anos destaca a relevância da dis- cussão que até hoje é fundamental: a relação da sociedade com os meios de comunicação, a responsabilidade dasmídias na construção ou descons- trução do bem para essa sociedade. A importante tarefa de criar na socie- dade uma vontade de conhecer e dis- cutir osmeios de comunicação e fazer comque os cidadãos deixassemde ser apenas espectadores. Nesses 35 anos, a publicidade con- tinuou tentando ousar e vender mais, os jornais se engajaram em campa- nhas muitas vezes distantes do inte- resse da maioria, as emissoras de TV e rádio, sempre próximas ao poder, trouxeram programações de maior qualidade técnica, porém nem sem- pre de acordo com o que a sociedade precisa. E no que se refere especifi- camente ao jornalismo, ele deixou de ser a única fonte de informação para quem quer saber os reais caminhos dos acontecimentos. Crítica da Informação foi ideali- zada para ser mensal, mas já em seu segundo número, devido aos cus- tos de produção, foi transformada em bimestral. A primeira edição saiu em abril de 1983, a sexta e última em março de 1984. Fechou porque não se pagava. Não conseguimos atrair o mercado publicitário, que desti- nava suas verbas para os veículos da grande imprensa, em especial para as emissoras de TV. Não tínhamos fôlego financeiro para esperar uma mudança. O editorial da primeira edição destacava que a revista surgia para tentar compreender os meios de comunicação, a função política que desempenhavam na sociedade bra- sileira, as possibilidades de mudan- ças e os mecanismos pelos quais poderiam ocorrer. A ideia era aju- dar as pessoas a se tornarem leito- res críticos, telespectadores cons- cientes, radiouvintes alertas. E fina- lizava lembrando que a informação sempre foi foco de poder. E foi isso que se tentou fazer durante esse intenso ano de nossas vidas. Restou para a equipe que se engajou nessa empreitada a sensação de ter reali- zado algo novo e importante para o debate dos meios de comunicação. Restou para essa equipe um car- tão de visitas que por muito tempo nos abriu portas em busca de traba- lho. Por ter ali realizado algo impor- tante na área de comunicação, éra- mos reconhecidos. As seis edições da revista Crítica da Informação contêm o registro de uma época importantíssima em que o país tentava sair de um período de censura, de desrespeito às institui- ções e repressão. E que precisava criar um espaço para reconstruir e modernizar os meios de comunica- ção com a participação da sociedade. Uma discussão que continua impor- tante até hoje. ■ lúcia costa é jornalista freelancer, foi secretária de redação das revistas Crítica da Informação e Brasil Extra , participou da equipe que criou o Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo , foi coordenadora de rede do jornalismo do SBT e da TV Record.

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