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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 39 De que vale a função de ombudsman? O representante dos leitores deve ser visto como parte da solução para a sobrevivência do negócio de notícias, não como um problema por paula cesarino costa não se sabe ao certo quantos somos hoje. Uma estimativa razoável é que existam perto de 150 ombudsmans em empresas noticiosas pelo mundo afora. Já foram mais presentes nos Estados Unidos. Ainda crescem em países da América Latina e ganham força no continente africano. A ONO (Organization of News Ombudsmen), entidade que congrega os representantes dos leitores, tem hoje 52 associados. Europa e Amé- rica do Norte ainda lideram no total de membros. O termo ombudsman tem origem sueca e significa “aquele que repre- senta”. Essa raiz faz com que tra- dicionalmente a palavra não varie em razão do gênero do ocupante e que, no Brasil, seja flexionada como ombudsmans. Os americanos prefe- rem ombudsmen. A pronúncia origi- nal seria “ômbudsman”, mas se con- sagrou no Brasil como palavra paro- xítona. Por vezes, são conhecidos por títulos aparentados como edi- tor público, advogado dos leitores e editor de leitores. A função de ombudsman jornalís- tico completou 50 anos em julho de 2017. Uma empresa proprietária de dois jornais de Louisville, no Ken- tucky, sudeste dos Estados Unidos, criou o cargo em 1967 como forma de prestação de contas independente a seu público. Em 1970, o Washington Post foi o primeiro a criar a posição entre os grandes jornais. Em 2013, substituiu o ombudsman pelo crí- tico de mídia. Pioneira na América Latina e no mundo lusófono, a F olha de S.Paulo instituiu a função em 1989, moti- vada pelo sucesso das experiên- cias do Washington Post e do espa- nhol El País . Em 24 de setembro de 1989, a primeira página anunciava: “Ombudsman traz ao leitor os erros da Folha”. Tratava-se de chamada para coluna de estreia de Caio Túlio Costa, o primeiro ombudsman da imprensa brasileira, sob o título: “Quando alguém é pago para defen- der o leitor”. Em 28 anos, alguns poucos jor- nais brasileiros repetiram o modelo da Folha , em geral, por períodos cur- tos. O jornal O Povo , de Fortaleza, é a exceção à regra. Desde 1993 man- tém seu defensor dos leitores. Resistente à criação da função, o jor- nal The New York Times só passou a ter um representante dos leitores em 2003, quando sua credibilidade foi abalada após integrante da sua reda- ção ser flagrado emplágio e adultera- ção da notícia, publicando entrevistas inventadas e notícias falsas. Acabou com o cargo neste ano de 2017, sob o frágil argumento de que ele não é mais necessário porque “seguidores em redes sociais e lei- tores na internet constituem, juntos, como um cão de guarda, uma forma moderna de fiscalização, mais vigi- lante e poderosa do que uma pessoa sozinha jamais poderia ser”, nas pala- vras de Arthur Sulzberger Jr., publi- sher do NYT . Foi a coroação de uma tendência que já vinha sendo sentida em razão da crise financeira das empresas jor- nalísticas em todo o mundo. Na direção da justificativa dada pelo publisher do New York Times , o último ombudsman do WP , Patrick Pexton, disse que os editores per- guntavam “por que ter um ombu- dsman pago para criticar o jornal, quando temos milhões de leitores fazendo isso de graça por meio das redes sociais?”
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