REVISTA_de_JO_ESPM 20

REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 41 A função é solitária – às vezes, frustrante –, exige dedicação e muitas vezes é vista com antipatia por colegas de profissão a reconhecer-se no jornal que esco- lheu como seu. Enquete informal que fiz com 20 dos interlocutores mais assíduos no departamento de ombudsman per- mitiu constatar que a quase tota- lidade acredita que suas solicita- ções e críticas são encaminhadas aos responsáveis, mas muitos avaliam que as recomendações da ombuds- man não são levadas em conta pela redação. Será? Efeito interno e externo Gostaria de citar dois casos ocorridos durantemeumandato como ombuds- man que são representativos da rever- beraçãoda função internamenteno jor- nal e na sociedade como um todo. São exemplos tambémdapressãoaqueestá submetido quem o exerce. Em julho de 2016, no calor do pro- cesso de impeachment que dividiu o país, a Folha divulgou dados de pes- quisa do Datafolha que se tornou polêmica em razão de critérios edi- toriais que considerei equivocados. A questão central estava na acusa- ção de o jornal ter omitido, delibe- radamente, que a maioria dos entre- vistados (62%) se disseram favorá- veis a novas eleições presidenciais, em cenário provocado pela renúncia de Dilma Rousseff e Michel Temer. A redação da Folha optou por desta- car que 50% preferiam a permanên- cia de Temer à volta de Dilma. Desde que assumi o mandato, nenhum assunto mobilizou tanto os leitores. A cada dez mensagens, seis continham críticas e acusações ao jornal. Variavam de fraude jornalís- tica e manipulação de resultados a pura e simples má-fé, passando por sonegação de informação e interpre- tação tendenciosa. Na crítica que circula diariamente, questionei a abordagem da pesquisa feita pela redação, que destacava em manchete o otimismo com a econo- mia e subaproveitava os humores políticos dos entrevistados. Sugeri que o jornal reconhecesse seu erro editorial e destacasse os números ausentes da pesquisa em nova reportagem. A redação resistiu. Como resumi, errou e depois persis- tiu no erro. O jornal cometeu grave erro de ava- liação. Não se preocupou em explo- rar os diversos pontos de vista que o material permitia, de modo a man- ter postura jornalística equidistante das paixões políticas. Tendo a chance de reparar o erro, encastelou-se na lógica da praxe e da suposta falta de apelo noticioso. A reação pouco transparente, lenta e de quase desprezo às falhas e omis- sões apontadas maculou a imagemda Folha e de seu instituto de pesquisas. Meses depois a cúpula da redação reconheceu que errara, refazendo a pesquisa e desta vez destacando a prevalência das eleições diretas entre os consultados. O que parecia uma batalha per- dida para o defensor dos leitores na visão imediata mostrou-se modifi- cadora nas ações do jornal no des- dobramento próximo. Falha de apuração Outromomento polêmico desvendou falha grave na forma de apuração dos principais veículos de comunicação brasileiros. Em coluna publicada emmarço de 2017, questionei a cobertura dos prin-

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