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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 43 Na era da hiperinformação não é possível abrir mão de precisão, equidade, transparência e ética Assim deu uma nova causa ao jor- nalismo, uma razão de viver extra para uma prática centenária. Usar ferramentas, profissionais e meios confiáveis para separar rumores de fatos. Produzir notícias verificáveis e confiáveis. O jornalismo é, assim, o lugar distintivo para a informação de qualidade em meio à avalanche ruidosa das redes sociais e dos robôs disseminadores de boatos, distorções e mentiras deslavadas. Alto nível de exigência Na era da pós-verdade, a credibili- dade e a confiança das organizações de notícia certamente serão funda- mentais para garantir a longevidade do negócio de notícias. A figura do ombudsman parece se encaixar per- feitamente nesse cenário. Em análise que fez do exercício da função, um pesquisador americano concluiu que a maioria dos ombu- dsmans que estudou não se envol- veu em críticas públicas regulares de suas organizações de notícias. Apon- tou que se sentiram desconfortáveis em fazê-lo porque a avaliação jor- nalística envolve razoável grau de subjetividade. Reclamaram de que o questionamento de desvios éticos pode causar problemas de convivên- cia com colegas de trabalho. Só posso responder que, num jor- nal como a Folha , o ombudsman da ombudsman são os leitores aplicados, detalhistas e inquietos que a alimen- tam. Se umrepresentante dos leitores não mantiver alto nível de exigência emquestões sobre ética, transparên- cia, equidade e precisão, de fato não estará à altura da função. Como alertou umdemeus anteces- sores, é a mais solitária das funções e, por vezes, frustrante. Exige dedi- cação e tempo e, de fato, é em geral vista com antipatia pelos profissio- nais do jornalismo. Seu potencial de conflito se exa- cerba em países em que a democra- cia se fragiliza. Na Turquia, para citar um exemplo, dois ombuds- mans chegaram a ser presos. O país vive uma escalada autoritária que já levou à detenção de mais de 200 jornalistas. Leitores exigentes Na Folha , desde 1989 foram 12 ocu- pantes a enfrentar o desafio de defen- der os leitores, criticar o jornal e ana- lisar a mídia em geral. Em tempos de crise, é fato a ser comemorado. O edi- tor-executivo, SérgioDávila, renovouo compromisso comos leitores: “A Folha não templanos de acabar como cargo de ombudsman. É uma das marcas do jornal e parte importante de seu pro- jeto editorial.” Encerro tentando responder àques- tão premente: por que uma empresa jornalística devemanter umombuds- man em seus quadros, com os decor- rentes custos financeiros, para ser fus- tigada, exposta e criticada? A sobrevivência dos jornais na era da hiperinformação não permitirá que abrammão de precisão, equidade, transparência e ética. Sendo assim, os ombudsmans não são parte do pro- blema da sobrevivência dos jornais. São parte da solução. ■ paula cesarino costa é ombudsman da Folha de S.Paulo desde 2016. Na Folha há 30 anos, foi secretária de redação, diretora da sucursal do Rio, editora de política, de negócios, de especiais e coordenadora de treinamento.

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