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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 45 no dia 9 de outubro , o campus Álvaro Alvimda ESPM, em São Paulo, recebe o 1º Seminário Internacional de Jor- nalismo ESPM/Columbia Journalism School . Em pauta, a crise dos modelos de negócios tradicionais, com a fuga de audiência e de anunciantes, o jornalismo investiga- tivo, as novas ferramentas que servem para a busca da verdade, a pesquisa e o ensino do jornalismo. Enfim, os desafios da profissão em tempos de fake news, pós-ver- dade e polarização política globalizada. E o principal convidado desse evento é Steve Coll, diretor da Colum- bia Journalism School, da Columbia University. Emuma conversa franca, Steve Coll falou diretamente de Columbia com a Revista de Jornalismo ESPM . Uma breve (mas significativa) amostra do que ele trará para o fórumde discussões: como o jornalismo tem se transfor- mado em termos de métodos e narrativas (com os recur- sos das grandes reportagens investigativas, como Panama Papers), os desafios para novos jornalistas – passando da cobertura do governo Trump à Lava Jato. Emmeio a tanta turbulência, há boas notícias: colaborador da revista New Yorker e vencedor de dois prêmios Pulitzer, Steve conti- nua esperançoso com o futuro do jornalismo. Como jornalista e diretor da Columbia Journalism School, diga: o que mudou na forma de fazer jornalismo? Foramduasmudanças significativas: namaneira como a notícia é distribuída e na estrutura da informação. Ambas impuseramum grande desafio ao jornalismo. A primeira tem a ver com o poder que as redes sociais assumiram na distribuição da mídia em vários países. Isso fez com que jornais, revistas, rádios e emissoras de TV perdes- sem muito do controle na distribuição do seu conteúdo. Os jornais costumavam controlar seu relacionamento com os leitores a ponto de eles saírem para comprar os jornais em bancas! Agora, eles dependem de platafor- mas como Facebook, Snap ou YouTube para falar com o seu público. Além do impacto econômico, isso mudou a maneira como as companhias desenham o conteúdo de notícias. Equal foi o impactodamudançanaestruturada informação? É mais positivo e, possivelmente, de efeito mais dura- douro, pois tem a ver com a estrutura que a informa- ção passou a ter com o advento do Big Data e o uso de softwares baseados em algoritmos capazes de processar imensos volumes de dados. Isso impactou diretamente o jornalismo investigativo, em projetos como Panama Papers –mudando a forma como o jornalismo é feito, com aumento da colaboração entre as organizações de mídia. Houve investigações que foram feitas por até 60 veícu- los em conjunto, todos guardando os mesmos segredos e publicando ao mesmo tempo. Isso era algo impensável dez anos atrás. Outro aspecto são os jornalistas colabo- rando com cientistas da computação e de dados para o bem público. Há diversos casos de reportagens premia- das feitas a partir da análise de uma grande quantidade de dados. Uma das novidades mais fascinantes na pro- fissão nos dias de hoje. Então o senhor acredita que programação, tecnologia de dados e outras áreas relacionadas deveriam fazer parte do ensino atual nas escolas de jornalismo? Sim. Porque, na era do Big Data, é difícil para o jorna- lista levar adiante sua função democrática e constitucio- nal de informar se ele não souber examinar da maneira correta os dados e algoritmos que estão sendo utiliza- dos e seus impactos na sociedade. É preciso literalmente olhar por baixo dos códigos e ver como eles são feitos. Os tribunais americanos estão usando softwares de algo- ritmo para determinar sentenças baseadas em indicações de como alguns criminosos irão reagir, se podem ou não retornar ao crime. Isso mostra que os processos de enge- nharia utilizados nos códigos das chamadas “fake news” [notícias falsas] podem influenciar a opinião pública. Há várias questões muito importantes de interesse público que estão sendo desenvolvidas com o suporte de enge- nheiros e especialistas em dados. Isso muda significati- vamente as habilidades necessárias para o exercício do jornalismo hoje. Embora seja umentusiasta domundo digital, o senhor con- tinua colaborando comuma revista impressa, a NewYorker . Até que ponto a mídia digital impactou as narrativas e a maneira como as notícias são editadas em outros meios? A minha velha e tradicional revista impressa é muito ativa na plataforma digital e isso certamente mudou a experiência de quem escreve para a revista nos últimos 15 anos. A New Yorker tem feito um grande trabalho de reflexão para balancear o jornalismo literário tradicional e o trabalho investigativo com a velocidade que a inter- net demanda. Se você olhar de uma maneira mais ampla para a indústria de jornais e revistas, o desafio óbvio é manter a qualidade dentro de uma demanda por mais volume e velocidade de notícias. Cada um desenvolveu uma estratégia para fazer frente a esses novos canais investindo mais do que de fato gostariam em mecanis- mos de controle de qualidade. Exemplos de erros catas- tróficos no jornalismo nos mostram que, muitas vezes, eles ocorrem não por questão de recursos, mas de aten- ção e de priorizar a qualidade.

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