REVISTA_de_JO_ESPM 20

50 JULHO | DEZEMBRO 2017 buir o conteúdo. Até aqui, não quiseram investir em edi- çãohumanapara evitar ocustoe apercepçãodequeuma edição feita por gente seria parcial. Mas, como o jornalis- mo exige critério editorial, terão de rever essa postura. • Plataformas precisam mostrar mais transparência e accountability . Embora o jornalismo hoje chegue a mais gente do que nunca, esse público não temcomo saber co- mo ou por que recebeu certo conteúdo, como os dados que está fornecendo às plataformas são usados ou como sua atividade na internet é manipulada. Já os meios es- tão produzindo mais conteúdo do que nunca, mas sem saber a quem esssa informação está chegando, nem co- mo. Estão à mercê do algoritmo. NaesteiradaseleiçõesnosEstadosUnidos, háumaopor- tunidade imediata de converter em ação toda a atenção dada aopoder de empresas de tecnologia e ao jornalismo. Até pouco tempo atrás, a norma entre plataformas (emes- pecial o Facebook) foi evitar a responsabilidade e a impu- tabilidade da função de publisher – pois isso custa caro. Lideradas por Facebook e Google, as plataformas foram proativas ao lançar iniciativas voltadas a melhorar omer- cado do jornalismo e promover a alfabetizaçãomidiática. Ninguém toca, no entanto, emquestões mais estruturais. Organizações jornalísticas só continuarão a ser enti- dades autônomas no futuro se houver uma reversão de tendências de consumo de informações e gastos compu- blicidade ou uma transferência considerável de riqueza de empresas de tecnologia e anunciantes. Nos Estados Unidos, certos meios receberam um empurrão após as eleições – o chamado “Trump Bump” –, com o aumento de assinaturas e doações. Há indícios de que editores – tanto grandes como de nicho – voltaram a investir para conquistar público e fontes de receita sem a intermedia- ção de plataformas. É cedo, no entanto, para dizer se isso representa uma mudança sistêmica e não apenas uma oscilação cíclica. Veículos de comunicação enfrentamumsério dilema. Deveriam seguir no oneroso negócio que é ter uma in- fraestrutura de publicação própria, comumpúblico me- nor mas total controle sobre a receita, amarca e os dados da audiência?Oudeveriamceder o controledos dados de usuários e da publicidade em troca do considerável cres- cimentodopúblicogarantidopor Facebookeoutrasplata- formas? Paramostrar como a imprensa está lidando com essa questão, fizemos entrevistas e análises de conteúdo. A nosso ver, o recente fenômeno da propagação digi- tal da desinformação é um indicador de problemas mui- to maiores sobre a comercialização e o controle privado da esfera pública. Introdução: damelancia à democracia Elas [as plataformas] são editoras. Sob muitos aspectos, contro- lam a audiência (…). São a porta de acesso ao público e decidem quementra e quemnão entra. É omundo delas. —KimLau, vice-presidente sênior e diretora de desenvolvimento de negócios, The Atlantic Emabril de 2016, milhares de engenheiros e executivos lotaram um centro de convenções em São Francisco, na Califórnia, para participar da conferência anual de desen- volvedoresdoFacebook.Noteatroondeaconteciaadiscus- são sobre amídia, não havia um lugar livre. Executivos de meios de comunicação domundo todo se acotovelavam paradescobrir oqueoFacebook iria fazer paraque conse- guissemganhar dinheirocomoconteúdoqueproduziam. No palco, Jonah Peretti, criador do BuzzFeed, e Chris Cox, umdos fundadores do Facebook e diretor de produ- tos da empresa, davam exemplos de coisas que “funcio- nam” na web social. Umdos destaques era o episódio em que dois funcionários do BuzzFeed estrangularam uma melancia comelásticos atéo frutoexplodir emuma trans- missão ao vivo no Facebook Live. A brincadeira chegou a ter 807 mil visualizações simultâneas e foi usada para mostrar como uma inovação do Facebook abria novas oportunidades de geração de receita para os meios. No auditório, muita gente deve ter se identificado com a me- lancia, pois tambémvemsendo estrangulada aos poucos por forças externas fora de seu controle. Euma dessas for- ças é o próprio Facebook. Setemeses depois, explodia outra bombanoFacebook. Uma semana após o inesperado resultado das eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos, o editor demí- dia do BuzzFeed, Craig Silverman, publicou uma série de reportagens mostrando como a desinformação tinha se propagadopelasmídias sociais durante a campanha elei- toral – sobretudonoFacebook. DaCalifórnia àMacedônia, proliferavam sites especializados em produzir notícias falsas em escala industrial. O trabalho de reportagem de Silverman mostrou que, nos meses que antecederam as eleições, onúmerode likes e compartilhamentos depubli- cações de sites como o FreedomDaily, no qual metade do conteúdo é falsoou tendencioso, foi quase 19vezesmaior,

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx