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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 63 De lá para cá, cresceu exponencialmente o número de ferramentas criadas por plataformas para trazermais con- teúdo de veículos de imprensa para seus sites. Não sur- preende que as plataformas sociais se saiam melhor na hospedagemde conteúdo social ede conversas; afinal, es- se é seu negócio. Empresas jornalísticas tinham passado umadécada tentandomontar comunidades ecriar partici- pação emseusmonolíticos sites; já asmídias sociais parti- ramdo princípio de que o ambiente criado era para todos, que qualquer umpoderia publicar ali. Ferramentas para ajudar veículos de imprensa aprodu- zirmaterial paraplataformas específicas – comoFacebook LiveVideo, InstagramStories, Snapchat Discover eTwitter Moments – cumprema dupla função de deixar que jorna- listas e meios de comunicação produzam conteúdo di- retamente na plataforma em questão e ajudar a platafor- ma a incentivar a produção do gênero e formato de jorna- lismo que hospedam. O Facebook prioriza o vídeo, que é umamídia publicitáriamais cara. Quando ofereceu a fun- ção de vídeo ao vivo para osmeios, a rede tomou a atípica decisão de pagar atéUS$ 5milhões a cada umpara usá-lo. Oincentivoparaquepublishersproduzamconteúdoem certos formatos responde a exigências domercado publi- citário. Para anunciantes, vídeos e imagens têmmais força do que palavras. Em2015, Mark Zuckerberg disse que “em mais cinco anos” grande parte do conteúdo no Facebook seria em vídeo. É um reflexo da realidade econômica pa- ra uma plataforma publicitária. Para os meios, o problema é, de novo, o custo da produ- ção. Produzir vídeos dá mais trabalho e sai mais caro. O Facebook já avisou, no entanto, que vai exibir comerciais nomeiodevídeos denomínimo90segundos, para incen- tivar a produção do material mais longo – que, alémdisso, seriapriorizadopeloalgoritmo. E, aocontráriodoqueocor- re como Instant Articles, o Facebook sempre fica compar- te da receita publicitária de vídeos. Para todos os publishers que entrevistamos, a alocação de recursos ea criaçãodeconteúdoemplataformas de ter- ceiros era uma realidade cotidiana (veja Figura 7). Emboraequipesde tecnologiadeorganizações jornalís- ticas já tenhamcriado formatos e produtos para suas pró- priasplataformas, hojeemdiaébemprovável que também estejamtrabalhandonodesenvolvimentodeprodutosque se integram complataformas de terceiros. Empresas deplataformas parecemconvencidas deque são capazes de criar ferramentas e espaços de publicação muitomelhoresdoqueempresasdecomunicação, emvir- tude da escala e do know-how. Realidade virtual, aplica- ções de inteligência artificial (como a Alexa, da Amazon, e oHome, doGoogle) e realidade aumentada são coisas que uma redação, sozinha, temdificuldade para desenvolver. Com as novas ferramentas, no entanto, chegam novos custos. Estruturas, fluxos de trabalho e alocação de recur- sos de organizações jornalísticas são, cada vez mais, dita- dos por plataformas – segundo revelaramnossas entrevis- tas. Senopassadoumveículo tinha gerentes demídias so- ciais, hoje, cada vez mais, há equipes dedicadas a geren- ciar e a criar conteúdo para plataformas específicas – e a administrar as relações resultantes desse formato. E, cada vezmais, essas equipes são fundamentais para a redação. E, embora as plataformas não tenhamvoz emdecisões editoriais de ummeio, ao hospedar seu conteúdo é inegá- vel que acabem influenciandoessas decisões. Certos ajus- tes feitospelosmeios sãomenores – emaisumaconcessão aocomportamentodousuárionaplataformadoque àpla- taforma emsi. NoFacebook, por exemplo, os vídeos come- çaramavir comtexto sobrepostoàs imagens porqueopú- blico estava desativando a reprodução automática do áu- dio.JáumaplataformacomooSnapchatexigeumaespécie deminirredação. Emcertos casos, nossapesquisa indicou uma influência mais direta. Em um caso, o Snapchat opi- nou sobre o logo de uma publicação; emoutro, ditou o gê- nero de conteúdo no qual ummeio deveria se concentrar. Todo conteúdo está sofrendo microajustes para casar melhor com a plataforma ou mostrar resultados melho- res em cada mídia social – o que inevitavelmente muda a apresentaçãoeo tomdo jornalismopropriamentedito. Um meio pode até dizer que esses resultados são apenas um dentremuitos indicadores de desempenho e que os valo- res fundamentais da organização jornalística não sofrem sua influência. Emdecisões de pauta, contudo, estrategis- tas de audiência e editores de plataformas sociais têm ca- da vez mais voz. Um publisher contou que uma matéria pode nementrar na pauta se a equipe de audiência achar que não vai atrair umbompúblico. Por outro lado, a criaçãodenovos produtos nas platafor- mas está ficando mais editorializada. No Twitter, a seção Moments é feita por uma equipe de curadores com base emfragmentos dehistórias, oque configurauma formade edição para plataformas sociais. O Snapchat criou um es- pecial paraoatentadoemSanBernardino, naCalifórnia. O FacebookcontratoueditoresparamontaraseçãoTrending. YouTube e Instagramtrabalhamcom indivíduos para aju- dá-los a criar conteúdopara as plataformas. Emcadaplata- formadessas, equipesdeparcerias cadavezmaiores estão em constante contato com a redação e responsáveis por redes sociais demeios de comunicação. “O relacionamento das redações com empresas exter- nas é novíssimo. Sobretudo para nós, da redação, é uma experiência inéditadiscutir comalguémde fora que com-

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