REVISTA_de_JO_ESPM 20

72 JULHO | DEZEMBRO 2017 foi um problema à parte nas eleições, foi também um in- dício de um problema estrutural muito maior, causado pelo modelo econômico e pelo sistema de automação na base do Facebook. Foi uma série de iterações sobre a monetização da pla- taforma e sobre como a informação foi disseminada e fil- trada ali que deixou claros os desafios que a imprensa ho- je enfrenta – e, em última instância, a criação de um siste- ma que exacerbou a disseminação de informações falsas durante a campanha eleitoral de 2016nos EstadosUnidos. De amigos e família à viralizaçãodanotícia Diasdepoisdeaprimeiramatéria sobreo fenômenodas fake news (redigida por AlexKantrowitz, do BuzzFeed) ter viralizado no Facebook, Mark Zuckerberg reiterou, no final de agosto de 2016, que o Facebook era uma pla- taforma, não ummeio jornalístico. “Somos uma empre- sa de tecnologia, não demídia”, disse Zuckerberg a uma turma de estudantes italianos durante uma viagem à Itália para ver o papa. “Damos as ferramentas, não pro- duzimos o conteúdo”. Só que o Facebook é, sem sombra de dúvida, a maior editoradomundo. Com1,9bilhãodeusuários ativos e 2 tri- lhões depublicações “buscáveis”, aplataforma temumpú- blicomaior doqueodequalquer outraorganizaçãodemí- dia da história. Umestudo recente (2016) do instituto Pew revelou que 67% dos americanos em idade adulta são ati- vos no Facebook e que 47% dos americanos recebe notí- cias pela plataforma. São cifras incríveis – emuito superio- res às deoutras plataformas sociais; a segundamais popu- lar, o Twitter, é usada por 16% dos americanos, sendo que somente9%recebemnotícias por ali. OalcancedoTwitter obviamente émaior – tuítes, sobretudo de DonaldTrump, acabam reverberando em outras mídias também –, mas é o Facebook que detém o público. O Facebook “não é só quaseonipresente entreusuários americanos de internet; ele centraliza o consumo de notícias no digital de manei- ranuncavista”, explicouJohnHerrman, repórter que rece- beu a bolsa David Carr do New York Times . São cifras superlativas até quando comparadas ao apo- geu da mídia tradicional. Em 1980, por exemplo, 42% dos americanos viam o telejornal no horário nobre das emis- soras ABC, NBC e CBS e apenas 3,56 milhões de america- nos recebiamum jornal diário damaior editora de jornais da época, a Gannett Co. Mas o papel central do Facebook no ecossistema jorna- lístico é um fenômeno novo. Em um episódio recente co- mo a campanha à reeleição deObama, o papel da rede so- cial no jornalismo foi bemdistinto. Em novembro de 2012, uma foto de Barack e Michelle Obama se abraçando, acompanhada do texto “Mais qua- tro anos”, virou o tuítemais compartilhado da história, se- gundo Kantrowitz no BuzzFeed. EmboraoTwitter fossebemmenor doqueoFacebook – em2012, tinha só200milhõesdeusuários, contrao 1,06bi- lhãodoFacebook –, a plataformadespontava como amea- ça; não em termos de penetração geral, mas no comparti- lhamento instante a instante crucial para produzir visitas regulares. Graças ao botão “retuitar”, era muito mais fácil umconteúdoviralizar noTwitter doquenoFacebook, on- de, naquela época, o conteúdo tinha que ser manualmen- te repostado. Embora o Facebook tivesse usuários regula- res, boa parte deles só usava o serviço paramanter conta- to com a família e os amigos. Algum tempo depois, o Facebook lançou o equivalen- te do retuíte: o botão “Share”. Com isso, qualquer umpodia distribuir uma publicação para seus seguidores, fazendo ummesmo post chegar a umpúblico cada vez maior. Em 2013, oFacebookadicionouhashtags e, em janeirode2014, uma seção “Trending”, que exibia os tópicos mais popula- res ao lado do feed de notícias. “Lançar uma série de recursos parecidos com os do Twitter deu ao Facebook a capacidade de disseminar ra- pidamenteoconteúdo [bombando] nomomento”, concluiu Kantrowitz. Em termos de velocidade, o Facebook ainda perdia para a publicação em tempo real do Twitter. Mas não importava. “Era rápido o suficiente e, com 1 bilhão de usuários ativos por mês, em comparação com os 250 mi- lhões doTwitter, compensava emmassa o que faltava em energia”, completou. Paralelamente, oFacebook fazia testes como algoritmo do feeddenotícias. Comoo algoritmodetermina oque ca- dausuáriovê, dápara ajustá-lode acordocomos dados ou o comportamento do usuário. Como explicamduas estu- diosas damídia, Nicole B. Ellison e danah boyd, a platafor- ma pode determinar quem de seus amigos é mais impor- tante para você, por exemplo, e priorizar publicações des- se subconjunto de usuários. Uma mudança em 2011 para permitir que publicações de certos usuários ou de certas páginas fossem ocultas deu ao algoritmo ainda mais in- formação sobre o tipo de coisa que cada pessoa quer ver. SegundoumestudodopróprioFacebookde 2015 intitula-

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