REVISTA_de_JO_ESPM 20
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 75 útil, usandoaplataformacomo instrumentodeapuraçãoe reportagem; eraumaparceria comoStoryful. Com isso tu- do, oFacebookmostrava a intençãode pôr asmãos na pu- blicação. Era uma tentativa de ajudar editores a explorar o potencial daplataformaede incentivar a transformaçãodo feed emumfluxo regular de informações sobre omundo. Ao anunciar o Newswire, Andy Mitchell, diretor de jor- nalismo e parcerias globais demídia, escreveu: O jornalismo vem encontrando um público maior do quenuncanoFacebook. Jornalistas eorganizações demí- dia viraram parte do Facebook, o que é visível em recur- sos como o Trending Topics, no aprimoramento do Pages e emmudanças recentes no feed de notícias. Osmeios es- tãovendoos resultados donossocompromisso, como trá- fegode referênciadoFacebookparasitesdamídiacrescen- domais de quatrovezes em2013, e estamos animados pa- ra aprofundar a relação com organizações de mídia e jor- nalistas no futuro próximo. Já em 2015, o Facebook virara uma ameaça à existên- cia de muitos publishers, pois se convertia na plataforma central de distribuição de notícias. Diante da queda acen- tuada da receita com circulação, classificados e publici- dade impressa, muitas organizações jornalísticas tinham começado a fazer umdoloroso corte de pessoal e a transi- çãoorganizacional rumoà sustentabilidadedigital. Agora, o Facebook fazia planos para absorver mais de sua distri- buição digital. Apósuma sériedeconversas comorganizaçõesdenotí- cias, emmaiode2015, oFacebook lançouo InstantArticles, uma ferramenta em sua plataforma mobile que permitia a um meio postar conteúdo diretamente no Facebook, emvez de dar o link que remetia o leitor a seu próprio site. ComodisseChrisCox, diretor deprodutosdoFacebook, ao New York Times após o lançamento, a princípio o serviço seria restrito a um grupo seleto de veículos: “Estamos par- tindo comalgo que, a nosso ver, vai funcionar para certos meios, para certas matérias e para certos modelos de ne- gócios; nossa ideia não é absorver tudo”. Jánãobastavadar o linkpara seu siteemmídias sociais, umsistema do qual muitos publishers já dependiampara gerar tráfego para sua página. Em breve, o Facebook vira- ria tambémaplataformanaqual o jornalismoeraconsumi- do – não só a principal plataforma na qual era descoberto. A justificativa expressa para o lançamento do Instant Articles foi que as pessoas desistiam de abrir algo quan- do a página demoravamuito para carregar. Se o conteúdo estivesseabrigadonopróprioFacebook, apessoapassaria mais tempo como conteúdo – e no Facebook. O custo, pa- ra os meios, era o controle sobre o público. Se o Facebook vendesse os anúncios, ficava com 30% da receita; já se os meios vendessemapublicidade, ficavamcom100%. E, co- mo mostramos antes, havia fortes incentivos para ceder o controle ao Facebook, incluindo o acesso ao sistema de segmentação de usuários da plataforma. A dúvida era se as empresas deviampostar links no Facebook para atrair o público para seus sites ou apostar na potencial penetra- ção do Instant Articles e ceder o controle do público e do tráfego para seus próprios sites. A proposta do Facebook despertou o interesse de mui- tos meios. Grandes empresas de mídia, como BuzzFeed, New York Times e National Geographic, a princípio apos- taramna solução. Por umperíodo de tempo limitado, veí- culos importantes tiveram acesso exclusivo ao recurso e chegarama ter seu conteúdodiferenciadonomobile com umraiozinho.Mas aposiçãoprivilegiadanãoduroumuito. Emfevereirode2016, oFacebookanunciouqueo Instant Articles não seria mais só para organizações jornalísticas aprovadas: seriaabertoaqualquer criadordeconteúdo. Até umaempresacomoa Intel podiapublicar conteúdodireta- mente no Instant Articles – e foi o que fez em junho, decla- rando: “Acreditamos que somos umeditor” (a Intel foi apri- meira de todas). Em abril, o Facebook liberou a postagem de conteúdo patrocinado ou branded no Instant Articles, marcando o patrocinador ou a marca. A admissão de publicidade nativa em uma plataforma até então reservada a meios de comunicação eliminou a breve distinção entre jornalismo e outros conteúdos no Facebook. Quando, do nada, esses recursos foram libera- dos a todos, o resultado foi minar aindamais os sinais que o usuário recebia para poder distinguir a qualidade da in- formação no Facebook (isso corrobora os resultados de umestudo doAmerican Press Institute segundo os quais, de cada dez pessoas, apenas duas lembravam qual era a fonte de um material compartilhado no Facebook e que, quando diante de dois conteúdos de duas fontes distin- tas, uma inventada e outra a Associated Press, 45% classi- ficaram a fonte inventada de “confiável” e um pouquinho mais, 48%, disseramomesmo para a AP.) A plataforma vinha passando por uma grande mudan- ça. O que antes era umespaço paramanter contato coma família e os amigos estava rapidamente virando uma fon- tedediversos tiposde informação, incluindonotícias, fofo- cas, entretenimentoepublicidade. Alémdisso, havia cada vezmenosdiferençana formacomocadaconteúdodesses eraapresentadoaousuárioemonetizadopormeios deco- municação, anunciantes e o próprio Facebook. Paralelamenteaessasmudanças, surgiaoutrapolêmica. O Facebook estava usando editores de carne e osso para determinar oque saíana listadeTrendingTopics. Embora isso possa ser considerado uma intervenção editorial po-
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx