REVISTA_de_JO_ESPM 20

76 JULHO | DEZEMBRO 2017 sitiva para garantir a integridade da lista, que tem alta vi- sibilidade, uma matéria de maio de 2016 no site Gizmodo revelou que esses editores estavam vetando conteúdo e causas conservadores. O caso provocou protestos gene- ralizados namídia conservadora e emoutros círculos e le- vou a uma improvável reunião, na sede do Facebook, de Zuckerberg com um grupo de líderes da mídia conserva- dora. Em seguida, o empresário reiterou o foco na integri- dade ideológica de seus produtos. Em uma provável resposta a essa pressão, o Facebook mudou de novo o feed de notícias em agosto de 2016 pa- ra dar maior ênfase a posts “pessoalmente informativos”. Emumpost no blog anunciando amudança, o Facebook declarou: Um dos valores do nosso feed de notícias é que toda publicação no seu feed deve ser informativa. O que faz alguém se sentir informado sobre o mundo é pessoal. O que alguém considera informativo pode ser diferen- te do que outra pessoa acha informativo. Pode ser uma matéria sobreumfatocorrente, sobre suacelebridade fa- vorita, uma notícia da sua cidade, uma crítica de um fil- me prestes a estrear, uma receita ou qualquer outra coi- sa que o informe. Lida de outra forma, essa descrição mostra como o Facebook pode criar uma bolha de ideias, causas e ideo- logias com as quais umusuário se identificou. AOPACIDADEDEALGORITMOS Uma crítica importante do efeito do Facebook nomundo é que a plataforma reforça os filtros de uma bolha e torna quase impossível que alguém saiba por que ou como es- tá recebendo certas notícias ou informações. Eli Pariser, presidentedoUpworthy, achaqueumalgorit- mopode terdoisefeitosnoecossistemadamídia. Primeiro, “ajuda as pessoas a se cercarem de informações que cor- roborem aquilo em que já acreditam”. Segundo, “tende a preterir amodalidade demídia que émais necessária em uma democracia: notícias e informações sobre os temas sociaismais importantes”. Oconteúdoque todousuáriovê noFacebook é filtrado tantopelos amigos que têmna rede como por seu comportamento na plataforma (o que cur- te, comenta, compartilha ou lê), bem como por uma série de conjecturas que o algoritmo da plataforma faz sobre o conteúdo que poderia interessar àquela pessoa. Um estudo de 2015 publicado na revista Science e es- crito por três membros da equipe de ciência de dados do Facebook revelou que o algoritmo do feed de notícias su- primia o que eles chamaram de “conteúdo diverso” em 8% das vezes para gente que se identificava como liberal e 5% para indivíduos que se diziam conservadores. O es- tudo, que foi inicialmente concebidopara refutar o impac- to de filtros, também descobriu que quanto mais no alto do feed estiver um conteúdo jornalístico, maior a proba- bilidade de que a pessoa clique nele e menor a de que di- fira de sua opinião. No Medium, o especialista em mídia e tecnologia Zeynep Tufekci escreveu: “Você está ven- do menos conteúdo jornalístico do qual discordaria, ain- da que compartilhado por seus amigos, pois o algoritmo não está mostrando”. Segundo Eli Pariser, esse processo de filtragem algorít- micapode, naturalmente, sermanipulado: “Algoritmos [es- tavam] bebendo emdistintas fontes (…) até que ganharam consciência. Criadores de conteúdoperceberamque essa era a dinâmica na qual estavam trabalhando e a alimen- taram. O que acontece não só quando há essa dinâmica – mas quando as pessoas sabemque ela existe e pensam emmaneiras de reforçá-la?” Peguemos, por exemplo, a ausência inicial de cobertu- ra, no Facebook, dos protestos de Ferguson. A análise de Tufekci revelou que “o algoritmo do feed de notícias do Facebook basicamente ocultouos relatos deprotestos pe- lamorte do [adolescente negro] Michael Brownpor umpo- licial emFerguson, no estado americanodoMissouri, pro- vavelmente porque essas publicações não se prestavam a ‘curtidas’, nemmesmo a comentários”. Enquanto muita genteacompanhavaasnotíciasdasmanifestações emseu feeddoTwitter (que à época não era determinadopor um algoritmo, mas exibia, na ordem de publicação, os posts de gente que você seguia), quando entrava no Facebook o que a pessoa via no feed eram publicações sobre o de- safio do balde de gelo (uma campanha viral para promo- ver a conscientização sobre a ELA – esclerose miotrófica lateral). E não foi só uma questão da quantidade de maté- rias escritas sobre cada acontecimento. Conforme conta o jornalista JohnMcDermott, emborahouvessemuitomais notícias sobre Ferguson do que sobre o desafio do balde de gelo, no Facebook o número de “referrals” (referências) aos protestos foi muito menor. No Twitter, foi o oposto. Esses vieses algorítmicos têm consideráveis implica- ções para o jornalismo. Enquanto organizações do im- presso e de radiodifusão podiam controlar que conteú- dos eram agrupados em seus produtos e, com isso, le- var ao público uma variedade de pontos de vista e mo- dalidades de conteúdo (jornalismo esportivo, cultural, atualidades e reportagens investigativas), no algoritmo do Facebook toda informação – inclusive o jornalismo – é atomizada e distribuída com base em uma série de re-

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