REVISTA_de_JO_ESPM 20
80 JULHO | DEZEMBRO 2017 Aoseguirafirmandoqueéumaempresade tecnologia –nãoumaempresademídia–,oFacebookpodedizerque qualquererrodetectadona [seção] TrendingTopicsouno feedde notícias é resultado de algoritmos que precisam ser ajustados, de inteligênciaartificial queprecisaassimi- larmaisdadosoude reflexõesdeusuários. [Aplataforma] alega que não está tomando qualquer posição editorial. SeoFacebookvai ser onovoárbitro social da confiança, assumindoumpapel queo jornalismohámuitovemexer- cendo, aindaquede forma imperfeita, [aplataforma] teráde conter adisseminaçãodedesinformaçãoe incentivar adi- fusão do jornalismo fundado emfatos. Vai, simplesmente, ter de começar a tomar decisões editoriais. Conclusão: uma transferênciade poder turbulenta Toda organização jornalística – tanto a mais tradicional das publicações como a startup nascida ontem – tem, ho- je, a necessidade estratégica de encarar sua saúde futura como atrelada a plataformas de terceiros. Cada vez mais, decisões e recursos de veículos de imprensa precisam computar necessidades dessas plataformas, o que afeta desde decisões de pauta até a integração com um gran- de leque de padrões técnicos. Embora essas novas plataformas abram oportunida- des e criem novos modelos de publicação, a maioria dos meios de comunicação ainda não conseguiu garantir que o investimento dará retorno. Emboramuitosmeios ainda encaremestratégias deplataforma comreticência, nossos dadosmostramque, nesse processode acelerada conver- gência, não há volta. É um problema para veículos de pe- quenoemédioporte, especialmente locaise regionais, que se sentem prejudicados pelo novo paradigma. Emboramuitos veículos tenhamficadodecepcionados como retorno inicial de formatos como o Instant Articles, o Facebook hoje domina a discussão na imprensa devi- do ao porte de seu público e a sua participação nomerca- do de publicidade nomobile. O escândalo das fake news, que estourou após as eleições presidenciais nos Estados Unidos, levou o Facebook a tentar forjar uma relaçãome- lhor com o jornalismo profissional – e não a bater em re- tirada. Também levouMark Zuckerberg a aproveitar o fe- riado do President’s Day para postar, no Facebook, um obrigado geral à classe jornalística por seu trabalho. A fo- to que acompanhava a publicação trazia Zuckerberg e a mulher, Priscilla, emfrente à sede do Selma Times-Journal . Nomomento, a trajetória demeios de comunicação no mundo social está criando duas categorias de organiza- ção jornalística: uma que estabelece e mantém sua pre- sença na rede, seu sistema de assinatura e sites próprios, e outra na qual a atividade de publicação deixa de ser um dos pilares da operação jornalística. Tony Haile, ex-presidente da empresa de análise edi- torial Chartbeat e fundador da scroll.com , descreve es- sa progressão: Há duas rotas para os publishers. [Uma é] aceitar que estão [no] negócio da publicidade, mas que (…) o ponto de controlemigroupara plataformas e, portanto, opon- tonoqual a conta fecha tambémmudou. Nesse caso, [os publishers] precisam cortar o máximo possível de cus- tos e adotar a mentalidade e a estrutura de um forne- cedor de baixo custo/baixas margens e alta escala. Ou, se decidiremque preferemmargemà escala, precisam se preparar para um futuro sempublicidade e comvá- rias fontes de receita (e não só o modelo de acesso) (…). A receita total pode ser menor, mas a margemmaior. O problema desses meios, em geral, é não querer to- mar uma decisão difícil (…). Com isso, acabam optando pelomeio-termo, tentandootimizar para ambos [osmo- delos], o que significa não otimizar para nenhum. E como seria o jornalismo se a atividade de publicação não fosse mais o sustentáculo das organizações que pa- gam por ele? ONowThis News, por exemplo, nem temuma homepa- ge propriamente dita – só uma página que redireciona o usuário para redes sociais. Sua produção é consumida ex- clusivamente pelaweb e tempouco conteúdo original. Na Reuters enaAssociatedPress, apublicaçãonunca foi parte domodelo básico de negócios. Omesmo vale para organi- zações semfins lucrativos mais novas, como ProPublica e o International Consortiumfor Investigative Journalism. O BuzzFeedpodeatéestar investindonosite,mas suaprinci- pal atividade econômica é a de uma agência de publicida- de, como jornalismobemsegregadoemumadivisãoautô- noma, separada. A CNN, cujo objetivo é ser “a número um no noticiário em vídeo no mobile”, já adotou uma estrutu- ra que a afasta da transmissão tradicional e prioriza a pro- dução de conteúdo variado para dezenas de plataformas.
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx